domingo, 28 de dezembro de 2008

O Nome do Ano

Inevitável nesta época do ano não fazer o famoso "balanço do ano". Eu mesmo nunca fui muito adepto desse lance todo. Sempre achei que o "último dia de dezembro é sempre igual ao primeiro de janeiro" (com direito a solo do Augustinho e tudo).


Mas já faz um tempo que, conincidentemente, o fim do ano acaba sendo meio oportuno para essas auto-análises. Independente de festas de fim de ano e etc, de uns quatro ou cinco anos pra cá, isso tem sido natural para mim. E tenho achado válido fazer este tal balanço. (escrever e publicar isso é uma mera forma de massagear um pouco meu ego - já tão judiado - onde eu coloco para mim mesmo e para vocês o que eu mudei ou não).



Sem sombra de dúvida, se eu tivesse que dar um nome para o ano de 2008, este nome seria Hortência.
Muita coisa boa aconteceu neste ano. Com certeza, das melhores, foi o surgimento da banda Verafisher que, não só me deu segurança como guitarrista, como me deu três grandes amigos.


Também teve minha saída do meu emprego que, por mais que tenha sido uma saída nebulosa, foi ótimo para que eu crescesse.



Mas nada afetou tanto minha vida, meus sentimentos, conceitos, experiências e etc...como meu curto, porém muito intenso, namoro com a Hortência.
A primeira grande mudança foi tomar a decisão de ficar ou não com ela. Eu estava, há pouco tempo, namorando a Patrícia na época. Mas cedi à paixão que a Hortência despertou em mim. A noite em que terminei com a Patty foi das piores do ano, das piores da minha vida. Poucas vezes me senti tão mal, tão injusto, ingrato...sei lá.
Mas aí, com a consciência limpa, estava com a Hortência.


Apaixonado como, acredito, jamais estive. Era nítido meu estado de graça. E em três meses, fui do paraíso ao inferno.


De repente, sem mais nem menos, tudo acaba. E acho que, também, nunca me senti tão mal como me senti nos meses de agosto e setembro de 2008. Não sabia se sentia raiva de mim ou dela. Se ficava magoado, ressentido, ou se corria pra tentar tê-la de volta...
Com o tempo, consegui ir colocando a cabeça no lugar. Percebendo onde eu errei e onde acertei. E parei de usar a palavrinha "se" quando pensava nela. Não tinha mais "se eu tivesse dito isso", "se eu tivesse feito aquilo..." Não interessa mais.
É o lance de aprender com a dor.



Depois das experiências de 2008 primeiro com a Patty, depois com a Hortência, passo a ver as mulheres com outros olhos. Por incrível que pareça, parece que eu acabei as humanizando mais...tornando-as mais acessíveis. Aprendi que não importa a idade. Importa a empatia. Importa a intensidade. Importa a compreensão mútua (talvez meu maior erro, em ambos os relacionamentos). Nunca li tanto Vinícius de Moraes como neste ano de 2008.



E no fim, passada a turbulência, olho pra trás sem mágoa, pelo contrário. Olho pra trás extremamente satisfeito de ter vivido um amor tão intenso com a Hortência e uma relação tão bonita com a Patty. E sei que ainda posso viver outros ainda mais bonitos. Olho pra trás com a certeza que acabei ganhando mais com esses relacionamentos, em especial com a Hortência, do que qualquer um possa imaginar.



Pensei em mandar um e-mail pra Hortência pra dizer isso tudo, mas acabei não mandando, portanto, espero que ela leia isso e saiba que ela sempre será especial pra mim, bem como são todas as garotas com quem já me envolvi...Suzana, Patty...enfim.



Em resumo acredito que comecei dois mil e oito ainda um garoto.




E termino como homem.






Passarinho, que som é esse?



Little Joy - Little Joy

Uma das notícias bombásticas deste ano de 2008 foi a repentina separação da banda Los Hermanos, que deixou orfãos milhares de fãs pelo país afora.
Passado o susto, ficou a espera dos trabalhos solos de cada um dos integrantes da banda.

Marcelo Camelo foi o primeiro dos barbudos a soltar na praça seu disco solo. Um disco pessoal, introspectivo...no limiar entre a beleza e a pretensão. Não agradou a maioria dos fãs dos Hermanos com quem conversei.

Eis que, em novembro, sai pelo selo gringo Rough Trade o disco da banda Little Joy, cuja peculiar formação conta com Rodrigo Amarante (ex-Los hermanos) e Fabrizio Moretti (baterista dos queridinhos Strokes).

A banda Little Joy é um trio (apesar de ao vivo contar com mais músicos). Rodrigo Amarante, Fabrizio Moretti e Binki Shapiro tocam um pouquinho de tudo no disco...guitarras, baixo, teclados, percussão.
A sonoridade da banda é suave e atraente. Rodrigo Amarante comprova cada vez mais ser um compositor de mão cheia. As canções são doces e com um ar de descompromisso saboroso. O instrumental é bem encaixadinho, cru, com backing vocais na medida certa.

A banda soa como um Beach Boys moderninho em canções como Brand New Start e No One's Better Sake. Músicas minimalistas e lindas como Unattainable, With Strangers e Don't Watch Me Dancing são baladinhas de amolecer o coração de qualquer um!
Claro que as referências dos Strokes e dos Los Hermanos aparecem.
Keep Me In Mind e How To Hang a Warhol poderiam facilmente constar no repertório dos Strokes.
A última canção do disco - e a única em português - Evaporar, emana melodias dos Hermanos dos discos Ventura e 4.

Concluindo, o disco vale mais do que um ítem para fãs de Strokes e Los Hermanos. É um disco excelente, recheado de canções saborosas, fáceis de se ouvir em qualquer situação! É um disco leve e despretensioso. Rockzinho delícia sem contra-indicações!

Mais que recomendado!

Este disco é para quem gosta de:
Franja no olho, pagar de indie, milk shake de chocolate, bandas de NY e camisetas justinhas.


Dá o play, macaco! - Onde Brilhem Os Olhos Seus - Fernanda Takai


E para terminar o ano, deixo de presente de Natal atrasado um de meus primeiros contos bizarros, em especial para minha mais nova amiga virtual Mariana Diamond, dona do excelente blog Papel Acobreado que já está adicionado à minha lista de blogs recomendados lá embaixo.




O Alfaiate e a Anta

Era uma tarde calma na cidade. Era domingo. A maioria dormia, ao longe se ouvia o ensaio de uma dessas bandas de garagem. Era um bairro da periferia. Todos esperavam o domingo passar.

Por ali perambulava uma vaca. Ela parecia perdida. Caminhava solitária e meditabunda. Ela era uma vaca muito especial. Ela veio da Índia escondida num navio. Ela veio em busca do brejo tão sonhado por todas as vacas do mundo. Ela chegou aqui na década de sessenta, com um grande conhecimento adquirido em suas andanças pelos países asiáticos. Até que um dia ela ouviu falar que o grande brejo ficava no Brasil.

Agora ela remoía seus pensamentos se perguntando se ela realmente fez certo tendo saído da Índia, onde era sagrada e respeitada, para chegar no Brasil e ser quase morta diversas vezes. Mas ela continuava em frente. Era o fim da década de noventa e ela estava ainda em busca de seu brejo.

Cai a noite. Todos estão em casa assistindo ao Fantástico ou fazendo alguma outra coisa...se preparando para a segunda-feira que se aproxima.

Algumas quadras distante da vaca, uma anta caminha vagarosamente ouvindo em seu walk-man velhas canções de amor. A anta parecia muito doce e meiga observando a lua com um brilho muito puro nos olhos. Ela foi trazida para a cidade muito nova por um velho caçador que ficou com dó de matá-la e decidiu criá-la. Com ele, a anta entra em contato com o velho e fascinante mundo do rock n´ roll. Principalmente os Beatles. Também passa a conhecer toda a literatura beatnik de Jack Kerouac e cia e a poesia contundente de Rimbaud e Baudelaire.

Quando o caçador morre, ela fica muito chocada e passa a vagar pela cidade com seu walk-man e algumas fitas cassete gravadas dos velhos discos do caçador.

Ao contrário da vaca, a anta se urbanizou muito. Comia chocolates, bebia vinho...Chegou a se viciar em maconha e raramente tomava LSD com uns porcos que viviam nos subúrbios. Com isso, ela sofria muito para conseguir sobreviver na cidade. Chegou a prostituir-se inúmeras vezes. Vendeu incenso barato se passando por Hare-Krishna e assim levava sua vida.

Naquela noite, ela caminhava pensando no que fazer, pensando na sua solidão cada vez mais angustiante e dolorosa. Ela queria se apaixonar. Viver feliz depois de tanta loucura. Estava cansada daquela vida de drogas e sexo. Até que viu uma grande sombra se aproximando. Não era uma sombra qualquer. Era uma sombra grande. Não era humano, mas não era de nenhum outro bicho do underground onde ela vivia. Eis que em sua frente surge a vaca. Refeita do susto, a anta se apresenta. A vaca faz o mesmo:

- Muito prazer. Eu sou a Vaca. Vim da Índia há muito tempo em busca do brejo prometido. Você sabe se há algum brejo por aqui?

- Brejo...não. Desculpe... Mas diga, o que você faz enquanto não encontra seu brejo...

E começa um animado diálogo entre as duas fêmeas.

Na rua onde as duas conversavam, havia a casa de um alfaiate. Ele trabalhava dia e noite em suas roupas. Tinha uma vasta freguesia devido a sua criatividade misturando cores e fazendo cortes incomuns em suas roupas tendo sempre como base a psicodelia, movimento pelo qual ele era apaixonado.

Ele viva sozinho ali há muito tempo. Ele nasceu no interior de Minas Gerais, mas fugiu de casa aos catorze anos em busca da liberdade física e mental. Sempre fez questão de trabalhar sob efeito de alucinógenos. Principalmente chás. Não conversava com ninguém que não fosse seu freguês. A não ser uma garota que freqüentou a casa dele por um tempo, mas que nunca mais foi vista depois.

Naquela noite, quase madrugada, ele trabalhava arduamente numa bela roupa roxa enquanto ouvia um disco solo de Syd Barret e bebericava um chazinho de não sei o que. Foi então que ele ouviu a animada conversa perto de sua janela e foi ver quem conversava tão animadamente num domingo à noite. Ao ver as duas fêmeas, encantou-se de imediato e decidiu sair e falar com elas.

Ele se aproximou gentilmente, se apresentou, e passaram a conversar os três. Logo ele as convida para entrar em sua casa para conversarem mais confortavelmente e beber alguma coisa. A vaca logo recusa. Ela diz que acha que está muito perto de seu destino e não pretende se desviar. Se despede agradecendo a conversa. A anta, por sua vez, aceita o convite sentindo que poderia ali mudar sua vida.

Na casa, o alfaiate logo coloca um LP do Crosby, Stills and Nash. A anta logo reconhece e se encanta com o gosto musical e o acervo de discos do alfaiate. E eles começam a conversar enquanto bebem um vinho barato. Enquanto conversavam, discos como Beatles, Jefferson Airplane, Mutantes, Neil Young, Raul Seixas e King Crimson rolavam embalando a noite.

A anta falou de toda sua vida, seu passado, sonhos... Riram muito dividindo experiências e viagens com ácido e chá de cogumelo. A anta falou de seu sonho mais secreto, encontrar Paul McCartney e convidá-lo para uma viagem mágica e misteriosa.

Ao vasculhar os velhos LPs, o alfaiate encontra um velho caderno de poesias que ele escrevera em sua adolescência entre caronas, cidades diferentes...Poemas que distorciam um pouco a ideologia hyppie, falava muito sobre sexo, o velho problema entre pais e filhos, e um discurso anti-tudo pacifista.

A noite começava a acabar, quando o alfaiate decide propor um algo mais. Ele queria era sexo com a doce anta.

A anta diz que é melhor ir com calma, que gostou muito dele, mas que quer apenas uma boa amizade...
Enquanto dizia isso tudo o alfaiate coloca um outro disco na vitrola. E se vira para a anta gritando para ela abrir as patas! E se atira em cima dela. Ela gritava desesperada que iria denúnciá-lo à Associação Protetora dos Animais, ou ao Ibama... mas seus gritos eram abafados pelo alfaiate que já começava a dominar a pobre anta.

Por fim, a anta fora estuprada ao som de Black Sabbath e desmaiara no sofá do alfaiate que babava num canto da sala num flash-back corriqueiro.

E amanhece. Não há sinal da anta pelas ruas. Nem pela cidade, nem em lugar nenhum. Passam dias, meses e nada da anta. Ela desapareceu misteriosamente.

Segundo um dos paralelepípedos da rua que vivem em frente à casa do alfaiate, a anta foi morta depois de estuprada. E que está enterrada no quintal da casa do mesmo. Ele disse que no dia seguinte do ocorrido o alfaiate só fez roupas pretas e só ouviu Bach o dia todo. Morbidez pura! O mineral afirma ainda a insanidade mental do alfaiate. Diz que as drogas acabaram com o cérebro dele. Ele já até apareceu no jornal local uma vez flagrado em cima de um poste alegando estar sendo perseguido por besouros gigantes.

Mas para que esta história não acabe tão triste, finalizo com satisfação informando que finalmente a vaca encontrou seu brejo e vive feliz ali atolada até o pescoço na lama brasileira.

Sim, amigos e amigas! A vaca foi pro brejo!


Um comentário:

Mariana Figueiredo disse...

Muito obrigada pelo presente.
Pooobre anta. Já passei maus bocados por causa de porres e convites inusitados...não a condeno por ter sido ingênua.
É uma grande sorte eu estar viva e saudável, conheci o lado bom de me aventurar.
Mas por que Black Sabbath?? uahaha Todo metal tem fama de mau. Menos eu.
Beijos.