segunda-feira, 28 de março de 2011

Sabe aquela coisa de "nada é o que parece"?
Super clichê, né?
Eu sei.

Mas muita gente acaba sendo assim, muitas vezes inconscientemente.
Outras, acabam sendo assim por puro descontrole.

Quando eu era garoto, na época de colégio, pra fugir de muita coisa, eu acabei me fazendo de malucão. O cara que fica no limiar entre o desleixado e o metido a artista (se é que existe distinção entre esses dois tipos de pessoa...).
Principalmente depois que comecei a tocar e entrar no rock isso foi aumentando.
Mais um clichê: E quando eu queria tirar a máscara, era muito difícil.
E isso acabou chegando a extremos pra mim.
Muito complicado.

Enfim...
Acho que todo mundo já passou ou passa por isso, nem que seja em escala bem menor.
Mas todo mundo sempre mostra um lado de si que nem sempre é o que predomina de sua personalidade e tu acaba virando uma caricatura de si mesmo.

Mas não vamos nos aprofundar nesse assunto.
Deixemos isso para psicólogos e afins.
Porque hoje falaremos de um dos filmes mais encantadores que eu já vi.

Dois bandidos fogem da cadeia, roubam um carro, até que chegam a uma casa. O que era pra ser um simples assalto, vira uma grande confusão e os bandidos levam um garoto de sete anos como refém e fogem.
Começa aí uma viagem emocionante que acaba abordando temas como família, amizade, escolhas e personalidade.

Claro que esse tipo de coisa não aconteceria se vivêssemos em Um Mundo Perfeito.
Em compensação tudo isso permite que diretores como Clint Eastwood façam filmes como este A Perfect World (Um Mundo Perfeito, aqui no Brasil).

Clint Eastwood dirige e atua nesta emocionante história que se passa no Texas da década de sessenta.
Me lembro de ter visto esse filme ainda bem novo, em meados dos anos noventa, e me lembro de ter ficado estarrecido. A cena final do filme nunca mais saiu da minha cabeça.

Butch Haynes e Terry Pugh fogem da penitenciária de Huntsville e começam a andar pela cidade em busca de um bom carro para pegar a estrada. Os dois não eram lá muito amigos e se separariam.
Mas Pugh acaba invadindo uma casa e armando uma baita confusão. Na fuga, acabam levando Phillip, um garoto de sete anos.
Os três pegam a estrada. No meio da viagem um desentendimento faz com que Butch mate Pugh. Agora a viagem era só de Haynes e Phillip.

Phillip vinha de uma família de testemunhas de Jeová e era cercado de restrições e tinha uma infância reprimida pela religião.
Butch começa a se afeiçoar ao garoto e nasce uma amizade verdadeira.
Mas até onde iria essa jornada?

Clint Eastwood é Red Garnett, um daqueles chefes de polícia casca grossa do sul dos Estados Unidos. Red começa a caçar Butch com tudo que pode.

Daí pra frente não há muito que eu possa dizer que não comprometa quem ainda não viu o filme.
Mas posso dizer que Kevin Costner está brilhante como Butch Haynes, mostrando duas personalidades. Por mais que ele faça muitas coisas bacanas, bons conselhos ao garoto e etc, ele é, inegavelmente, um ladrão, um bandido. E ele nem sempre consegue esconder isso. Mas fica a dúvida. Qual das duas personalidades é a predominante. Quem realmente é Butch Haynes? Costner realmente me impressionou neste filme.

De resto, o filme, em termos de atuações, não apresenta grandes supresas. O garoto Phillip, interpretado pelo T. J. Lowther (mais conhecido hoje como Dr. Hank McKee, da série Grey's Anatomy) é esforçado, mas nem sempre passa a emoção que o personagem pede.
Eastwood faz o mesmo papel de caubói durão que sempre fez. Com muita competência, claro. Mas sem novidades.

Mas Clint Eastwood dá um verdadeiro show na direção.
O filme, esteticamente, é lindo. Eastwood está em seu habitat natural e dirige o filme com sensibilidade, apesar de ser um filme violento e denso desde o início. Momentos de extrema emoção se misturam com momentos violentos.
É tensão do início ao fim...e que fim.

O roteiro é de John Lee Hancock, um roteirista e diretor pouco conhecido, mas que aqui faz um trabalho primoroso.
O roteiro é bem amarrado e prende o espectador à história com facilidade. Da mesma maneira que o personagem de Kevin Costner pega várias estradas em sentidos diferentes, mas sempre sabendo seu destino, assim Hancock escreve este roteiro. Tomando rumos que vão surpreendendo até chegar a um final emocionante que se relaciona com toda a história contada.

Um filme que não só te faz pensar.
É Um filme encantador e comovente.

Butch diz para Phillip dentro do carro que eles estão, na verdade, numa máquina do tempo. Aponta para frente e diz "Aquele é o futuro", aponta para trás e diz "Ali é o passado" e, por fim, pára o carro e diz "E este é o presente. Aproveite enquanto pode.".

E aí, você vai entrar no carro ou não?



Passarinho, que som é esse?


Betcha Bottom Dollar - The Puppini Sisters

Assim como o cinema, a música também é pura magia.
Pode te fazer, em pleno século vinte um, voltar à década de 1940.
Para isso, basta você pegar o disco Betcha Bottom Dollar do trio vocal The Puppini Sisters, se sentar e relaxar ouvindo uma a uma as sensacionais canções que este disco apresenta.

O trio começou em 2004 pelas amigas Marcella Puppini, Stephanie O'Brien e Kate Mullins, inspiradas no jazz e be bop de cabaré dos anos 40. Mas nada de querer fazer versões moderninhas nem nada. O negócio é abusar de arranjos à moda antiga.
Apesar de nehum parentesco (Marcela Puppini é italiana, enquanto as duas outras integrantes são inglesas) o nome do grupo foi inspirada nas The Andrews Sisters, essas sim irmãs, que fizeram grande sucesso nos anos quarenta e ficaram famosas por ir para alojamentos e hospitais aliados na Itália, dentre outros países, na Segunda Guerra Mundial para cantar e encorajar os soldados.

Este primeiro disco do trio é divertidíssimo e fundamental por resgatar um tipo de som que as novas gerações mal conhecem.
Os arranjos vocais são perfeitos. Não há como criticar, as três são cantorascompetentíssimas.
A banda que as acompanha não deixa por menos e faz um trabalho digno de aplausos.

Um dos grandes trunfos do grupo para chamar atenção da mídia, além de todo o visual retrô que as três jovens abraçam, foi fazer algumas versões de canções contemporâneas com os arranjos baseados no jazz, be bop e boogie-woggie que as cantoras estão acostumadas a cantar.
Dessas versões, sobressaem-se I Will Survive, clásico dos anos setenta e Panic, dos Smiths.

Mas o ouro está no repertório clássico escolhido pelas cantoras.
O carro-chefe do disco é Mr. Sandman, um dos standarts da música americana dos anos cinquenta, intepretada aqui de forma impecável.
A música de abertura do disco não poderia ser mais apropriada. Sisters, de 1954 ficou famosa por ser tema de um filme chamado White Christmas. A música é saborosíssima.
Outra música encantadora é a Java Jive, que além de tudo tem uma história interessante, já que é praticamente uma dessas canções de domínio público que data do fim do século dezenove, mas foi re-estruturada e gravada como conhecemos na década de 40 por Milton Drake e Ben Oakland.

Eu poderia falar de todas as canções do disco aqui, mas deixo para que vocês descubram por si todas as cores deste disco maravilhoso.

Já que falamos tanto de cinema aqui, não posso deixar de falar também que neste disco também está a excelente Tu Vuo' Fa L'Americano, standart da música pop italiana dos anos 50 de Renato Carosone. A versão das Puppini é ainda mais jazzista que a versão original, mas encantadora pelo arranjo de vozes.
O que tem a ver com cinema?
É que uma das melhores cenas do filme O Talentoso Ripley é quando essa música é tocada.

Sem contar que Mr. Sandman é a música que está tocando quando Marty McFly chega a 1955.

Concluindo.

Ouça esse disco.
Aproveite esta viagem ao passado sem preocupações.
Aqui você não vai precisar de 1,21 gigawats para voltar.


Este disco é para quem gosta de: Pin-ups, visual retrô, musicais da Brodway, Louis Prima, whisky e charuto, carros antigos, rockabilly, Nat King Cole, roupa de brechó, posar de blasé, Richard Cheese.

Aperta o play, Macaco! -
Super Homem - Wonkavision

sexta-feira, 25 de março de 2011

Tudo Acontece Aqui e Em Todo Lugar

É muito legal tu entrar numa sala de cinema e se deparar com personagens heróicos com poderes incríveis, ou vilões extremamente ardilosos e totalmente sem escrúpulos. Há também monstros, alienígenas, zumbis...personagens que tu dificilmente vai encontrar andando pela rua.
É a magia do cinema. É fantasia.

Mas também faz parte do cinema nos apresentar personagens comuns. Gente que poderia ser comparada a mim ou a a você. Personagens com quem tu se identifica de imediato. Também faz parte do cinema nos emocionar fazendo com que nos olhemos no espelho.

E neste aspecto, o diretor Cameron Crowe é um mestre.
Quem não se identificou com Tom Cruise em Jerry Maguire, ou com o inseguro Willian Miller em Almost Famous...? Até mesmo os personagens do Singles, jovens adultos crescendo, buscando relacionamentos...Este Singles inclusive, um filme subestimado de Crowe.

Tocamos em três pontos cruciais no parágrafo acima para falar sobre o filme escolhido para hoje:
Cameron Crowe
Personagens "humanos demais"
Filme subestimado

O filme mais recente de Cameron Crowe é de 2005, foi recebido de forma morna por público e crítica. Mas apesar disso, é inegável que Elizabethtown (Tudo Acontece Em Elizabethtown, aqui no Brasil) é um filme brilhante, com personagens carismáticos, com profundidade e um roteiro emocionante.

O filme conta a história de Drew, que, após fracassar em seu grande projeto na empresa onde trabalha, recebe a notícia que seu pai está morto numa pequena cidade do Kentucky, Elizabethtown, e é convencido pela irmã e mãe a ir buscar o corpo para a cremação.

No avião, Drew conhece a encantadora aeromoça Claire que, por acaso, também é de Elizabethtown.
Acrescenta-se uma família com todos os tipos caricatos que toda família tem e que Drew não via há anos.
Pronto!
Temos uma história totalmente corriqueira, mas contada de forma inspirada.

Drew, o protagonista, é interpretado por Orlando Bloom (mais conhecido por Legolas, de Senhor dos Anéis e Will Turner de Piratas do Caribe). É um ator que, sinceramente, nunca me despertou grande admiração. Mas está impressionante neste filme. É o tipo de personagem que, pelo menos em uma cena, tu vai se identificar com ele. Ele dá uma humanidade, uma realidade, ao personagem, que chega a emocionar. Principalmente nos momentos em que ele está sozinho na estarada.

A aeromoça Claire é a eterna Mary Jane, de Homem Aranha, Kirsten Dunst. E ela está ainda mais apaixonante neste Elizabethtown. Uma garota sensível e sincera, mas que parece sempre esconder alguma coisa...algum sentimento que não quer que as pessoas percebam. A interpretação dela aqui está espetacular.

Mas todos os créditos vão para Cameron Crowe.
Sempre digo isso: Vamos valorizar diretores assim. Diretores autorais.
Crowe escreve e dirije este filme com uma riqueza de detalhes impressionante.
A começar pelo roteiro. Interessante, cheio de diálogos irresistíveis, voltas e reviravoltas, supresas, um humor delicado que permeia o filme todo, mas também uma carga dramática intensa.
Nunca vi ninguém falar sobre fracasso e busca por superação com tanta humanidade como Cameron Crowe consegue fazer.

Para completar, o longa conta com uma trilha sonora maravilhosa com Tom Petty, The Hollies, The Temptations, Elton John, Ryan Adams...
A fotografia do filme é cuidadosa, principalmente destacando a paisagem ao longo da viagem de Drew pelos Estados Unidos.
E, por fim, a montagem, esperta, sem exageros de cortes, ou flash backs forçados.

É um filme que todo mundo deveria ver.
Porque todo mundo já fracassou feio.
Todo mundo já pensou no pior.
Todo mundo é, pelo menos um pouco, inseguro.
Todo mundo luta pra se re-erguer.
Todo mundo chora.
Todo mundo se apaixona.
Todo mundo se aventura.

Todo mundo vive. E sofre as consequências boas e ruins de viver.

Tudo acontece em Elizabethtown.
Tudo acontece em Marília.
Tudo acontece, seja lá onde você viva.


Passarinho, que som é esse?


Tigermilk - Belle & Sebastian

É muito raro aparecer no cenário musical quem consiga produzir tanto com qualidade, bom-gosto e sensibilidade.
Pois os escocesses da banda Belle & Sebastian são um desses raros casos. Com nove discos lançados até agora, os caras ainda não erraram a mão, apresentando sempre canções bem elaboradas, originais e inspiradas.

Mas Tigermilk tem um charme a mais. É o primeiro disco da banda. Foi lançado em 1996, uma tiragem de apenas 1000 cópias em vinil (que hoje em dia devem valer por volta de quatrocentos ou quinhentos euros cada) e depois relançado em CD pelo selo Jeepster.

É um disco encantador. Stuart Murdoch é um compositor brilhante. Com influências que vão de The Smiths a Nick Drake, passando por Donovan, Bob Dylan e Pavement, ele escreve canções introspectivas, com melodias intrigantes e envolventes.

Falando assim, muitos podem pensar que estamos falando de um disco de baladas melosas.
Ingênuo engano.
O disco traz canções, não agitadas e com guitarras distorcidas, como poderia esperar um rocker. Mas sim canções inspiradoras que te trazem um entuasiasmo, mas de forma tranquila, como quem diz: "Hey, vai ficar tudo bem. Relaxe.". Assim são canções como My Wandering Days Are Over, You're Just A Baby e Expectations, com um refrão emocionante.
Mas é claro que Murdoch também escreve baladas tocantes como a doce Mary Jo e a lindíssima We Rule The School, que discorre sobre um arranjo de piano e cordas de arrepiar.

Esse é discoteca básica.
Até pode baixar, mas vale a pena comprar e ter o original na estante.



Esse disco é para quem gosta de:
Filme europeu, roupa de brechó, fumar cigarro mentolado, Jeff Buckley, ler livros em praças públicas, discutir problemas sentimentais no bar, The Smiths, não ter perfil no facebook.

Aperta o play, Macaco! -
The Fool On The Hill - The Beatles

quinta-feira, 17 de março de 2011

Recapitulando: A intenção deste blog é, a cada post, falar sobre um filme e um disco e, no meio disso, falar um pouco sobre mim. O que quer dizer que, principalmente os filmes, não são escolhidos ao acaso.
Sempre pego um filme pra falar sobre que corresponda com o que eu ando sentindo, vivendo...enfim, um filme que fale um pouco sobre o momento que estou vivendo e tenho vontade de dividir isso, expresar de alguma forma.

E o fato é que eu fiquei muito na dúvida sobre a escolha do filme de hoje.
Até porque estou numa das fases mais complicadas que já vivi.

Recentemente eu me dei conta que tenho uma porção de grandes amigos. Realmente bons amigos.
E mesmo eu sabendo disso, sempre mantive certa distância.

A palavra é cumplicidade.
É algo difícil de arrancar de mim. Eu sou muito bom para ouvir as pessoas, para, às vezes, até dar uns conselhos tortos...mas quando é minha vez de falar, fico na defensiva. Ou sou muito evasivo, ou faço piada...
E, de repente, me deparo com um momento em que eu precisava ter essa cumplicidade.
Eu sei com quem eu posso ou não posso contar.
Mas não consigo sair do casulo e realmente conversar sobree mim mesmo.

Por um momento, cogitei hoje falar sobre o The Wall, do Alan Parker, mas achei óbvio e meio forçar a barra...

E o filme que eu acabei escolhendo é uma obra prima de um diretor pouco valorizado.
Quase Famosos (Almost Famous) do Cameron Crowe é um filmaço porque ele fala de amizade e cumplicidade acima de tudo.
Toda a história de a banda Stillwater ser o Led Zeppelin ou quem quer que seja é só uma curiosidade. A coisa toda do rock n' roll life style, banda na estrada e tal é só pano de fundo para mostrar a história de amizade e cumplicidade entre o garoto Willian Miller e a encantadora Penny Lane.

Ok, vamos situar a coisa toda.
Almost Famous conta a história de Willian Miller, garoto precoce que começa a escrever críticas de discos para zines e revistas locais e acaba sendo contratado pela revista Rolling Stone para acompanhar uma banda em ascenção numa turnê. Entre seus ídolos do rock ele conhece Penny Lane, uma misteriosa garota que se diz "ajudante da banda" e não uma reles groupie.
E o filme gira em torno desse mundo. Um garoto crescendo entre rock stars de egos inflados, garotas complicadas e uma mãe super-protetora.

Vamos aos créditos.
Quem, de cara, rouba a cena é, como sempre, Philip Seymour Hoffman, interpretando o mítico Lester Bangs. Hoffman dá um banho de atuação encarnando este personagem pitoresco da história do rock, um crítico mal-humorado e muito ácido.
Billy Crudup também se destaca como Russel Hammond, um guitarrista talentoso e egocêntrico.
Mas a grande surpresa do filme é Kate Hudson no papel de Penny Lane. Ela está irresistível! Além de lindíssima, ela consegue passar muita emoção em diferentes momentos.

Por fim, temos o bom gosto e sensibilidade de Cameron Crowe na direção.
Não à toa este filme é um grande marco em sua filmografia, já que o filme é baseado na história dele mesmo. Ele começou garoto a escrever resenhas para revistas de rock e acabou escrevendo para a Rolling Stone por muito tempo antes de virar cineasta.
Assim sendo, já dá pra sacar que a trilha sonora do filme é espetacular. Em alguns momentos a fotografia enche os olhos e a montagem é irretocável!

Há dois momentos no filme que ilustram bem o que eu dizia acima sobre cumplicidade e amizade.
Primeiro é na cena em que Willian conta a Penny Lane que ela foi disputada num jogo de pôquer entre duas bandas...ela tentando esconder as lágrimas é tocante.
E a melhor cena de todas (para mim, uma das melhores cenas que eu já vi na história do cinema) é quando, após uma treta feia da banda, estão todos no ônibus. Está tocando Tiny Dancer do Elton John, Willian diz para Penny Lane que ele precisa ir para casa.
Ela olha para ele com um olhar tão doce e encantador, diz "você está em casa." e encosta a cabeça no ombro dele.

E isso, meu amigo e minha amiga, isso é cumplicidade.


Passarinho, que som é esse?


Feels Like Home - Norah Jones

Norah Jones fez muito sucesso em 2002 com seu disco de estréia Come With Me, um disco de jazz basicamente, com boas melodias e um hit certeiro em trilha sonora de novela da Globo inclusive.

E, em 2004, o esperado segundo disco chegou surpreendendo todo mundo.
Em Feels Like Home, a cantora abraçou o country, folk e bluegrass de forma irresistível!
As baladas cheias de acordes jazzísticos, deram lugar à simplicidade do country.
E ela acertou em cheio.

Num gênero onde é muito fácil cair no senso comum, Norah Jones esbanja qualidades tanto como instrumentista e cantora e também como compositora, já que ela escreve boa parte do material do álbum.

Em algumas canções ainda ouvimos ecos da formação jazzista de Jones, como no solo de piano elétrico da canção In The Morning. Mas ainda assim, a carga blues é mais forte.

O disco é todo saboroso.
Tem arranjos na medida certa, nem muito minimalista, nem muito cheio de firulas. Os timbres são excelentes, principalmente de baixo e violão, tudo valorizando a voz doce da cantora.
É tudo macio, para você ouvir e se sentir bem, como deve ser um bom disco de country ou bluegrass.

Destaco a linda The Long Way Home com aquela levadinha country sensacional, a animada Greepin' In também não fica atrás no quesito country.
Quando se trata de baladas, Jones também faz bonito e traz a belíssima Humble Me e a emocionante Those Sweet Words. Para ouvir apaixonado.

Mas o disco todo passeia por este contexto.
Arranjos de bom gosto, boas composições, interpretações saborosas...
É tudo que você precisa!

Vai lá ouvir.

Este disco é para quem gosta de:
Ir ao cinema sozinho, namorar no sofá, capuccino, Willie Nelson, caminhonete velha, passear no campo, Joni Mitchell, Jack Daniels, tempo frio.

Aperta o play, Macaco! - Acabou Chorare - Novos Baianos

terça-feira, 1 de março de 2011

É recorrente no mundo das artes um certo desequilíbrio.
Da mesma maneira é recorrente, da filosofia ao papo de mesa de bar, as inúmeras tentativas, em geral frustradas, de definir o que é loucura.

Do mesmo jeito que eu, por exemplo, tenho meus inúmeros defeitos...melhor dizendo: barreiras. Me sinto totalmente à vontade quando trata-se de assuntos que eu amo incondicionalmente como música e cinema. Ou quando componho uma canção e escrevo aqui neste blog.
São coisas que me satisfazem. É uma postura minha que não combina em nada com a vida que eu levo fora deste mundo.
Já falei sobre isso demais aqui, não quero ser repetitivo.
Mas tudo que me decepciona em mim mesmo. Todas as barreriras que eu não consigo quebrar...é tudo acumulado num canto e...sabe como é, causa um monte de sentimentos ruins que eu acabo não dividindo com as pessoa s e tal.
Obviamente é algo que não deixa de me afetar racionalmente. Pode ser considerado loucura de certa forma...?

E é na música e no cimena que esses sentimentos são acalmados.
É como se alguém me pegasse pela mão, ou me abraçasse me mostrando um ponto de esperança, dizendo que vai ficar tudo bem.
Se no filme as coisas acabam bem, por quê não na vida real também?
Ou o mundo também não é feito de um pouco de ilusão?

Ontem eu assisti um filme que há muito não assistia.
Um filme que me causou grande impacto, porque o assisti quando adolescente, a fase de rebeldia, e uma fase onde passei maus bocados por conta de pais, bem intencionados, mas super protetores em muitos momentos, causando certa repressão (que combinada à rebeldia juvenil) não me ajudou muito a crescer de verdade.

Trata-se do filme Shine. Um filme aclamadíssimo pela crítica, mas nem tanto conhecido pelo público.

Ele conta a história real de um pianista australiano que desde criança apresentava um talento descomunal, mas que sofria muito com um pai opressor. Certamente o garoto já tinha uma pré-disposição a algum problema mental, mas isso o filme não deixa claro.
O fato é que o garoto cresce, vai para uma grande escola de música, mas acaba sucumbindo a pressão dos grandes concertos.
Volta ao seu país natal, é internado em uma clínica psiquiátrica e é afastado da música.
Até que o acaso (sempre o acaso) o faz voltar á música de forma comovente.

O filme não é tão brilhante tecnicamente.Tem alguns momentos realmente impressionantes na fotografia, mas no geral o filme é básico. O que prende o espectador é a montagem esperta mesclando flashbacks e o momento atual do músico e o roteiro muito bem escrito, dando profundidade aos personagens.

Shine, lançado em 1996, foi escrito e dirigido por Scott Hicks, um diretor pouco conhecido mas com obras interessante como Neve Sobre Os Cedros.
Mas quem dá todo o peso dramático do filme é a atuação espetacular de Geoffrey Rush (mais conhecido por filmes como Piratas do Caribe e Contos do Marquês de Sade) no papel principal, o pianista David Helfgott. Também impressiona a atuação de Noah Taylor interpretando Helfgott em sua adolescência.

Apesar de o filme ser velhinho, não foi dar spoilers da história para que você possa ir atrás e assistir esse belíssimo longa.

Com certeza, se você, assim como eu, se sente perturbado, desamparado e etc em alguns momentos da sua vida (quem não se sente assim de vez enquando?), esse filme lhe trará uma boa dose de esperança e tranquilidade.

Recomendadíssimo, ok?


Passarinho, que som é esse?


Foo Fighters - There's Nothing Left To Lose

Li em algum lugar que o disco Rotomusic de Liquidificapum é o disco do Pato Fu que os fãs do Mr Bungle mais gostam.
Seguindo essa linha de pensamento, posso dizer que There's Nothing Left To Lose, terceiro disco dos Foo Fighters, lançado em 1999, é o disco da banda de Dave Grohl que os fãs do Teenage Fanclub mais gostam.

Tá difícil de entender?
Eu explico.

Os Foo Fighters vinham de dois discos muito fortes. O primeiro, homônimo, bem cru e urgente e já mostrando as qualidades de Dave Grohl como compositor. Mas o disco ainda se mantinha na sombra do Nirvana.
Já com o segundo disco, The Colour and The Shape, a banda deixa de ser conhecida como "a banda do baterista do Nirvana" e se firma como Foo Fighters, uma das grandes promessas do rock n' roll contemporâneo. O disco é energético, pesado, mas com boas melodias bem dosadas.

E eis que aparece este There's Nothing To Lose. Um disco delicioso como poucos!
Neste disco Dave Grohl parece ter encontrado a medida certa entre melodias emocionantes e guitarras saturadas, soando muito mais como uma banda de power pop do que uma banda de rock n' roll grunge, hard, ou seja lá como tu goste de classificá-los.

O disco abre com punch trazendo a música Stacked Actors, canção que, dizem as más línguas, é uma crítica (pra ser bonzinho) às atitudes de Courtney Love tanto à época que ela vivia com Kurt Cobain, como com o espólio do Nirvana após a morte de Cobain.

De resto o disco é um amontoado de melodias incríveis e letras bem sacadas que vão de relacionamentos amorosos a entusiasmo, diversão...
As mais marcantes do disco são Breakout (que fez parte da trilha sonora do Filme Eu, Eu Mesmo e Irene), Learn To Fly, que foi hit instantâneo com um clipe genial e Generator, uma canção empolgante com um riff do caralho onde Dave Grohl usa um talk box.

Explicando melhor o lance que falei acima, o restante do disco é feito de canções que caberiam facilmente num disco do Teenage Fanclub ou do Big Star (ícones do power pop e bandas geniais que tu deveria conhecer, ok?) tamanha a capacidade do Dave Grohl de escrever harmonias simples e encantadoras sem perder a linguagem rocker.

Só pra citar algumas, temos Aurora com um ar mais viajandão e um refrão delicioso, Headwires e Ain't It the Life, talvez as duas com mais cara do Teenage da época de discos como Howdy! e a belíssima Next Year, que também teve um clipe maravilhoso e tem um dos melhores arranjos da história da banda.

Sendo eu um fã de melodias, considero este o melhor disco dos Foo Fighters, justamente por ter essa mistura tão equilibrada de postura rock e melodias açucaradas.

Disco obrigatório!

Este disco é para quem gosta de: Levar a namorada pra tomar sorvete, ir ao cinema, tocar com a banda sábado de tarde, Teenage Fanclub, ficar em cima do muro entre o mainstream e o underground, Nirvana.

Aperta o play, Macaco! - Guitar - Cake