quarta-feira, 24 de novembro de 2010

ESPECIAL PAUL McCARTNEY

ATENÇÃO
Este é um post diferente do formato que você está acostumado a ler.
Não terá resenha de filme e nem a seção "Passarinho, que som é esse?"



Como descrever algo que pareceu um sonho?
Algo que na realidade, sempre foi um sonho distante.

Em outubro se confirmaram os boatos.
Paul McCartney passaria pelo Brasil em novembro.
A venda de ingressos, um caso á parte. A princípio disponíveis somente para clientes do banco Bradesco com cartão de crédito.
Foi onde entraram em ação os amigos. Nos organizamos de forma que ninguém ficasse de fora e garantisse seu ingresso logo na pré-venda.

Nos primeiros minutos do dia 15 de outubro todos os meus sentidos estavam voltados para meu computador. A tensão era enorme. Quando a Patrícia me enviou a mensagem de confirmação um alívio incrível e um frio na espinha percorreu meu corpo.
Paul McCartney passaria pela América Latina em novembro com sua turnê Up and Coming nas cidades de Porto Alegre no dia 07 de novembro, Buenos Aires nos dias 10 e 11 e São Paulo nos dias 21 22.
E meu ingresso para o show do dia 21 de novembro em São Paulo, no estádio do Morumbi, estava garantido.
Pista prime. Na cara do gol!

O espaço de tempo entre o dia 15 de outubro e o dia 20 de novembro pareceu mais longo do que realmente é.
Mas chegou. No sábado, dia 20, peguei a estrada para São Paulo cercado de bons amigos.
A viagem, como se esperava foi divertidíssima. Fomos em dois carros, sendo que tínhamos um par de walk-talkies, por onde os dois carros se comunicavam.


Em São Paulo, no sábado de noite, reunimos toda a turma, de Marília e de São Paulo, num boteco para combinar os detalhes do dia seguinte. E poucas vezes rimos e nos divertimos tanto quanto naquela noite.


E o domingo despontou com sol, contrariando as previsões de chuva. Após um almoço um pouco conturbado num shopping abarrotado de gente nas proximidades do estádio do Morumbi, seguimos, devidamente uniformizados com as camisetas criadas e desenvolvidas por Patrícia, Bruno e Gabriela, para nosso destino: intermináveis filas debaixo do sol.


A única decepção deste show foi a organização na parte de fora do estádio.
Filas bagunçadas se perdiam pela calçada do Morumbi. Os organizadores do evento estavam mais perdidos que o próprio público.


Mas no fim, separamos a turma da pista comum e da pista prime e, cada um pro seu lado, acabou encontrando seu lugar ao sol (e que sol).
Um evento desta magnitude proporciona a oportunidade de se ter contato com gente de todas as regiões do país, e de várias gerações.
Na fila, conversei com um rapaz de Belo Horizonte, uma garota de Recife, outra de Piracicaba e uma senhora de Campo Grande que viera com o marido e filhos.
Com pouco atraso os portões foram abertos por volta de cinco e quarenta e cinco para a entrada do público.
Uma vez lá dentro, vendo aquele palco enorme um aperto no peito é inevitável.

A espera é longa. São três horas e meia que parecem ser seis.

Mas houveram momentos divertidos. Encontramos um casal de meia-idade muito simpático que veria o Macca pela segunda vez. Conversamos e rimos muito.

Mas ás nove da noite em ponto os telões se acendem e começam a passar imagens, recortes, textos e fotos retratando a carreira de McCartney, enquanto sucessos remixados do cantor são tocados. É o começo de tudo.

Pontualmente nove e meia da noite Paul McCartney entra no palco e acena sorridente a um público que cantarola em uníssono "we love you yeah yeah yeah".
A banda ataca a sequência Venus and Mars/Rock Show/Jet. Abraços, lágrimas e gritos por todos os lados. Começava ali uma experiência única para cada uma das 64 mil pessoas ali presentes.

No empurra-empurra eu já não via mais ninguém da turma que estava comigo.
E não estava ligando a mínima para isso.

O show começou energético. Após a sequência de abertura, McCartney esbanjou simpatia falando em português. "Boa noite, paulistas! Boa noite, Brasil!" o público delirou com a saudação. O ex-beatle ainda emendou com bom humor: "Esta noite vou falar um pouco em português. Mas vou falar mais em inglês.".
Na sequência vem All My Loving, clássico do início dos Beatles. Ainda viriam outras canções do tempos dos Beatles como Drive My Car e I've Just Seen a Face.

A magia emanava do palco e contagiava o público. Em The Long and Winding Road era raro ver um rosto sem lágrimas.
Até mesmo as falas ensaiadas e repetidas em shows anteriores emocionavam. Antes de executar My Love, todos já sabiam que Paul Diria "Essa música eu escrevi para a minha gatinha Linda. Mas esta noite ela é para todos os namorados.". Antes de terminar a frase o público já vibrava. E mais e mais lágrimas.

Outra marca das apresentações de McCartney são as homenagens aos dois beatles já falecidos, John Lennon e George Harrison.
Para Lennon, Paul toca emocionado, sozinho no palco a canção Here Today, escrita em homenagem a John Lennon em 1982.
Mas é quando se refere a George Harrison que McCartney eleva a níveis estratosféricos as emoções do público. Paul toca Something, canção escrita por Harrison, inicialmente sozinho com um ukelele (instrumento havaiano que George gostava muito). Mas quando a música chega no momento do solo de guitarra, as luzes do palco se acendem e a banda entra junto.
Enquanto o belíssimo solo de guitarra é tocado, fotos de Harrison passam no enorme telão. E o público mais uma vez explode em choro.

Outro momento sublime durante a apresentação do músico partiu do público. Sabendo que Paul costuma tocar A Day in The Life e emendar Give Peace a Chance (canção de John Lennon), pela internet, os fãs combinaram, através de sites de relacionamento, levar centenas de bexigas brancas para serem lançadas ao ar quando fossem tocadas essas canções. McCartney ficou visivelmente tocado com a cena.

E muito mais ainda viria. A pirotecnia de Live and Let Die, a contagiante Band On The Run e mais standards dos Beatles como Ob-La-Di Ob-La-Da, Back In The USSR, Paperback Writer e Hey Jude.


Em especial I've Got A Felling me enlouqueceu, já que desde sempre está entre minhas favoritas, não só dos Beatles, mas de todo o universo do rock n' roll.

O músico ainda saiu e voltou duas vezes para o bis. Na primeira vez, tocou Day Tripper, Lady Madonna e Get Back. No segundo e final tocou a famosa Yesterday, Helter Skelter e finalizou como costuma fazer há tempos, tocando Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (Reprise) e The End.
Um final para derrubar até mesmo o mais gelado dos corações humanos.
A belíssima melodia, e a letra...e ao fundo um sol nascente no telão...
E dá-lhe nó na garganta e mais lágrimas.

Detalhe que Macca, no final de tudo, quando se despedia do público, foi dar uma de suas corridinhas no palco e tropeçou levando um tombaço. Tudo mostrado pelos dois enormes telões ao lado do palco.
Mas, como sempre, ele mostrou senso de humor, sorriu, acenou pro público e foi embora.

Paul McCartney justifica sua mítica imagem e reputação de maior ícone da cultura pop vivo.
São praticamente três horas de show, 36 canções tocadas e McCartney, com seus 68 anos de idade, parece incansável, sempre sorridente e amável com seu público.
Mesmo com uma banda competentíssima e vigorosa ao seu lado, McCartney tem uma presença de palco magnética, tendo domínio completo do público, que só tem olhos para ele.

Assistir um show de Paul McCartney é mais que simplesmente presenciar um grande show de rock. É uma experiência de vida que transcende a música. Algumas das poucas palavras que consigo encontrar para descrever o que foi estar diante daquele palco são magia, amor e harmonia.

Claro. A viagem de volta foi igualmente divertida, apesar de um pouco tensa no final.

Faço questão de agradecer aqui de todo coração aos melhores amigos que se pode ter e que compartilharam todas essas emoções lá comigo.

Antonio Paulo
Bia
Bruno
Fernando
Gabi
Ian
Julia
Mírian
Nicolau
Patrícia
Samira
Victor


Também faço questão de agradecer a ele: Sir Paul McCartney!
Por ter passado por aqui e nos dar a oportunidade de presenciar este que, certamente, foi e será o mais importante evento da minha vida.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Uma das coisas mais injustas para mim é escolher apenas uma pessoa para ser o "melhor amigo".
Eu tenho tantos amigos extraordinários, que não acho justo dizer que um é melhor.

Assim como o amor, a amizade não pode ser medida. Logo, não dá pra dizer quem é mais ou menos amigo.
O amigo é o cara que se preocupa contigo, que diz as verdades que tu precisa ouvir, que te dá conforto quando tu está mal, que te dá ânimo, que te diverte, que te faz gargalhar, que te faz chorar, que te escuta...

Falar sobre amizade é meio besta até, porque todo mundo sabe muito bem o que representa ter um bom amigo por perto, ou mesmo longe.

Mas é sempre bom lembrar da importância de se ter bons amigos.

Essa é uma das premissas do filme que venho falar hoje.

Mary & Max é uma animação lançada em 2009.
Mas não uma animação qualquer. Está longe de ser algo infantil, inocente...

A história, baseada em fatos reais, fala sobre Mary, uma criança introvertida, cheia de dúvidas e muito imaginativa.
Certo dia, Mary, que morava na Austrália, esperava por sua mãe numa agência de correios e resolve escolher um endereço aleatoriamente numa lista para escrever tentando conseguir respostas de algumas de suas dúvidas.

Ela acaba escrevendo para Max, um solitário homem de 40 anos morando em Nova York.
Max, intrigado, responde à carta de Mary e eles começam a se corresponder com frequência, iniciando uma amizade inusitada entre duas pessoas tão diferentes, e, ao mesmo tempo, tão parecidas (é um clichê, eu sei...).

Mas, apesar do clichê, a história funciona.
O roteiro é maravilhoso. Bem amarrado, consegue emocionar e fazer rir até chegar a um final soberbo.
Os desenhos são muito bons. A estética, um pouco sombria, lembra um pouco os trabalhos de Tim Burton, mas não chega a ser soturno, tem uma leveza...só vendo mesmo. É difícil explicar.

A direção é do premiado Adam Elliot, ganhador do Oscar em 2004 na categoria melhor curta-metragem.
Uma direção cuidadosa e muito eficiente, diga-se.

O filme é belíssimo.
Vai agradar tanto amantes de animação quanto amantes do bom cinema.
Se você gosta de filmes com um roteiro esperto, cenas emocionantes e finais surpreendentes, não deixe de assistir Mary & Max.

Ah, esqueci de dizer...quem dubla o personagem Max é só o Philip Seymour Hoffman.


Passarinho, que som é esse?



Mondo Cane - Mike Patton


Ao ler o nome Mike Patton, muita gente já pensa em distúrbios musicais, grunhidos e experimentações.
Não é que não seja verdade. Mas a versatilidade de Patton faz com que um nó na cabeça das pessoas apareça sempre.

Nada como um artista que tem o saudável costume de surpreender sempre seu público.

Mondo Cane é o mais recente projeto de Patton.
Um disco onde não encontram-se a psicodelia do Mr. Bungle, a violência dos Fantômas ou as melodias tortas do Faith No More.
Neste disco Mike Patton mostra sua verve mais pop, beirando o brega. Mas com um estilo único.

Admirador confesso de Ennio Morricone e dominando a língua italiana, Patton resolve gravar um punhado de canções italianas que foram sucesso nos anos 50.
E o resultado é inacreditável.

Basicamente os arranjos das canções não foram alterados drasticamente.
Essa é a primeira surpresa.
A segunda, e mais importante, é a interpretação de Mike Patton.

Com toda uma orquestra por trás, Patton mostra que ainda merece a alcunha de Homem das Mil Vozes.
Ele desfila seus famosos graves, alguns urros guturais e tudo o mais que lhe rendeu reconhecimento e respeito em todo o mundo.

O carro-chefe do disco é Deep Deep Down, de Ennio Morricone em uma versão suave e agradabilíssima.
Ainda destacam-se Urlo Negro, a mais agressiva do disco, a bela Il Cielo In Una Stanza, Ore D'Amore, com um arranjo incrível, 20km Al Giorno, com uma levada deliciosa...Mas minha favorita é Che Notte! Uma música forte com uma interpretação invejável de Patton...um arranjo jazz dançante e envolvente.

O disco todo é surpreendente.
Um disco delicioso de se ouvir em qualquer momento.

Vá procurar agora!


Este disco é para quem gosta de:
Festa à fantasia, western spaguetti, cores quentes, Ennio Morricone, queijo e vinho, apartamentos amplos, Faith No More, sarcasmo.

Aperta o play, Macaco! - Che Notte! - Mike Patton

domingo, 7 de novembro de 2010

terça-feira, 2 de novembro de 2010

A vida imita a arte, ou a arte imita a vida?

Você já imaginou sua vida sendo um filme?
Eu imagino o tempo todo. Em vários momentos gostaria de matar o roteirista, inclusive.
É bacana isso. É um exercício de imaginação. Tu vai vivendo as coisas e imaginando a trilha sonora, ou cenas alternativas...

Qualquer vida pode dar um excelente filme. Basta ver a beleza das coisas e saber mostrá-las de forma atraente.
No filme Antes do Amanhecer, Jesse, o personagem de Ethan Hawke fala sobre a idéia de fazer um programa de tv retratando a rotina de vida de uma pessoa e tal...ele diz uma frase interessante: "Porque um cachorro dormindo ao sol é uma imagem tão bonita e a de um homem sacando dinheiro no caixa eletrônico não é?"

Outro filme que retrata muito bem essa coisa do "homem comum" é O Anti-Herói Americano, baseado nos quadrinhos American Splendor de Harvey Pekar e Robert Crumb.

Mas me dispus a vir escrever hoje, ainda com o braço direito engessado, porque acabei de ver pela segunda vez Piaf - Um Hino Ao Amor.
Um filme esplendoroso, emocionante e com uma atuação absurdamente magnífica.

Edith Piaf foi dessas artistas emblemáticas, com uma vida repleta de fatos corriqueiros misturados com acontecimentos impressionantes.

Tudo no filme impressiona.
A fotografia marcante que retrata palcos luxuosos por onde a cantora passou e também uma Paris esfarrapada de cabarés de terceira.
A montagem também é ganial e envolvente, indo e vindo mostrando Piaf já crescida vivendo uma carreira ascendente e sua saúde se deteriorando com cortes mostrando sua infância e seus últimos dias.

Mas o que faz desse filme uma obra de arte é a direção cuidadosa e o roteiro tocante de Oliver Dahan e, principalmente, a atuação impecável de Marion Cotillard.
Poucas vezes se viu no cinema tamanha entrega a um personagem. As mudanças da personagem ao longo da vida são perfeitas, ainda mais porque Piaf tinha uma saúde muito frágil.

Não à toa Cotillard levou o Oscar com este filme.
Sua transformação em Piaf é impressionante.

É um filme fundamental para qualquer um que ame cinema e música (não necessariamente nessa ordem).


Passarinho, que som é esse?


Above - Mad Season


Os anos noventa foram marcados pela invesão das camisas de flanela xadrez e cabelos compridos oriundos de Seattle.
O grunge assolou o mundo pop capitaneado por Kurt Cobain, Eddie Vedder e Layne Stanley.

E é interessante notar é que esse pessoal de Seattle era realmente amigo. Não vou ficar aqui contando a história toda da cena musical de Seattle no fim dos anos oitenta, começo dos noventa, mas nota-se que várias bandas tinham integrantes em comum, um saiu de uma banda e entrou em outra e por aí vai.

Em 1994 o guitarrista Mike McReady aproveitou a entre-safra de gravações do Pearl Jam para ir para uma clínica de reabilitação tratar de seus vícios. Lá conheceu o baixista de blues John Baker Saunders. Os dois se entenderam bem e resolveram tocar juntos. Voltaram para Seattle e se juntaram ao baterista do Screaming Trees Barrett Martin e o vocalista do Alice In Chains Layne Stanley.
Após algumas jams, já tinham material suficiente para um disco.
E que disco!

Em 1995 saiu Above. O disco foi celebrado pela mídia e a banda era tida como supergrupo do grunge, por conta de seus integrantes tocarem nas principais bandas do movimento.

Mas vamos ao disco.

De fato o disco é soberbo.
Não tem muito a ver com o o Alice In Chains ou o Pearl Jam. Acaba se assemelhando mais ao Screaming Trees por não ser tão pesado e ter um pé fincado no blues.

Above traz os quatro músicos dando seu melhor. Principalmente McReady, que mostra ser um guitarrista com um feeling extraordinário e muita criatividade.

O álbum tem músicas contemplativas e experimentais como a faixa de abertura Wake Up e a bonita All Alone.
A música que ficou mais famosa desse disco é a bela River Of Deceit, uma balada envolvente.
De resto o disco emana o grunge por assim dizer.
Lifeless Dead e I Don't Know Anything são as mais pesadas, remetendo mais ao Alice In Chains.
A faixa-título, Above, e a experimental Long Gone Day tem a participação de Mark Lanegan, vocalista do Screaming Trees, no vocal. Lanegan e Stanley dividindo o vocal é surpreendente.

Em resumo, é um disco impecável. Mistura de forma saborosa blues e hard rock. Tem guitarras saturadas, melodias brilhantes e performances sensacionais.

É um disco indispensável para quem gosta de rock n' roll.


Esse disco é para quem gosta de: Jeans rasgados, Alice In Chains, cabelo comprido ensebado, Beavis & Butt-Head, Pearl Jam, drogas sintéticas, quadrinhos do Robert Crumb e café.

Aperta o play, Macaco: Tomorrow - Silverchair