segunda-feira, 28 de março de 2011

Sabe aquela coisa de "nada é o que parece"?
Super clichê, né?
Eu sei.

Mas muita gente acaba sendo assim, muitas vezes inconscientemente.
Outras, acabam sendo assim por puro descontrole.

Quando eu era garoto, na época de colégio, pra fugir de muita coisa, eu acabei me fazendo de malucão. O cara que fica no limiar entre o desleixado e o metido a artista (se é que existe distinção entre esses dois tipos de pessoa...).
Principalmente depois que comecei a tocar e entrar no rock isso foi aumentando.
Mais um clichê: E quando eu queria tirar a máscara, era muito difícil.
E isso acabou chegando a extremos pra mim.
Muito complicado.

Enfim...
Acho que todo mundo já passou ou passa por isso, nem que seja em escala bem menor.
Mas todo mundo sempre mostra um lado de si que nem sempre é o que predomina de sua personalidade e tu acaba virando uma caricatura de si mesmo.

Mas não vamos nos aprofundar nesse assunto.
Deixemos isso para psicólogos e afins.
Porque hoje falaremos de um dos filmes mais encantadores que eu já vi.

Dois bandidos fogem da cadeia, roubam um carro, até que chegam a uma casa. O que era pra ser um simples assalto, vira uma grande confusão e os bandidos levam um garoto de sete anos como refém e fogem.
Começa aí uma viagem emocionante que acaba abordando temas como família, amizade, escolhas e personalidade.

Claro que esse tipo de coisa não aconteceria se vivêssemos em Um Mundo Perfeito.
Em compensação tudo isso permite que diretores como Clint Eastwood façam filmes como este A Perfect World (Um Mundo Perfeito, aqui no Brasil).

Clint Eastwood dirige e atua nesta emocionante história que se passa no Texas da década de sessenta.
Me lembro de ter visto esse filme ainda bem novo, em meados dos anos noventa, e me lembro de ter ficado estarrecido. A cena final do filme nunca mais saiu da minha cabeça.

Butch Haynes e Terry Pugh fogem da penitenciária de Huntsville e começam a andar pela cidade em busca de um bom carro para pegar a estrada. Os dois não eram lá muito amigos e se separariam.
Mas Pugh acaba invadindo uma casa e armando uma baita confusão. Na fuga, acabam levando Phillip, um garoto de sete anos.
Os três pegam a estrada. No meio da viagem um desentendimento faz com que Butch mate Pugh. Agora a viagem era só de Haynes e Phillip.

Phillip vinha de uma família de testemunhas de Jeová e era cercado de restrições e tinha uma infância reprimida pela religião.
Butch começa a se afeiçoar ao garoto e nasce uma amizade verdadeira.
Mas até onde iria essa jornada?

Clint Eastwood é Red Garnett, um daqueles chefes de polícia casca grossa do sul dos Estados Unidos. Red começa a caçar Butch com tudo que pode.

Daí pra frente não há muito que eu possa dizer que não comprometa quem ainda não viu o filme.
Mas posso dizer que Kevin Costner está brilhante como Butch Haynes, mostrando duas personalidades. Por mais que ele faça muitas coisas bacanas, bons conselhos ao garoto e etc, ele é, inegavelmente, um ladrão, um bandido. E ele nem sempre consegue esconder isso. Mas fica a dúvida. Qual das duas personalidades é a predominante. Quem realmente é Butch Haynes? Costner realmente me impressionou neste filme.

De resto, o filme, em termos de atuações, não apresenta grandes supresas. O garoto Phillip, interpretado pelo T. J. Lowther (mais conhecido hoje como Dr. Hank McKee, da série Grey's Anatomy) é esforçado, mas nem sempre passa a emoção que o personagem pede.
Eastwood faz o mesmo papel de caubói durão que sempre fez. Com muita competência, claro. Mas sem novidades.

Mas Clint Eastwood dá um verdadeiro show na direção.
O filme, esteticamente, é lindo. Eastwood está em seu habitat natural e dirige o filme com sensibilidade, apesar de ser um filme violento e denso desde o início. Momentos de extrema emoção se misturam com momentos violentos.
É tensão do início ao fim...e que fim.

O roteiro é de John Lee Hancock, um roteirista e diretor pouco conhecido, mas que aqui faz um trabalho primoroso.
O roteiro é bem amarrado e prende o espectador à história com facilidade. Da mesma maneira que o personagem de Kevin Costner pega várias estradas em sentidos diferentes, mas sempre sabendo seu destino, assim Hancock escreve este roteiro. Tomando rumos que vão surpreendendo até chegar a um final emocionante que se relaciona com toda a história contada.

Um filme que não só te faz pensar.
É Um filme encantador e comovente.

Butch diz para Phillip dentro do carro que eles estão, na verdade, numa máquina do tempo. Aponta para frente e diz "Aquele é o futuro", aponta para trás e diz "Ali é o passado" e, por fim, pára o carro e diz "E este é o presente. Aproveite enquanto pode.".

E aí, você vai entrar no carro ou não?



Passarinho, que som é esse?


Betcha Bottom Dollar - The Puppini Sisters

Assim como o cinema, a música também é pura magia.
Pode te fazer, em pleno século vinte um, voltar à década de 1940.
Para isso, basta você pegar o disco Betcha Bottom Dollar do trio vocal The Puppini Sisters, se sentar e relaxar ouvindo uma a uma as sensacionais canções que este disco apresenta.

O trio começou em 2004 pelas amigas Marcella Puppini, Stephanie O'Brien e Kate Mullins, inspiradas no jazz e be bop de cabaré dos anos 40. Mas nada de querer fazer versões moderninhas nem nada. O negócio é abusar de arranjos à moda antiga.
Apesar de nehum parentesco (Marcela Puppini é italiana, enquanto as duas outras integrantes são inglesas) o nome do grupo foi inspirada nas The Andrews Sisters, essas sim irmãs, que fizeram grande sucesso nos anos quarenta e ficaram famosas por ir para alojamentos e hospitais aliados na Itália, dentre outros países, na Segunda Guerra Mundial para cantar e encorajar os soldados.

Este primeiro disco do trio é divertidíssimo e fundamental por resgatar um tipo de som que as novas gerações mal conhecem.
Os arranjos vocais são perfeitos. Não há como criticar, as três são cantorascompetentíssimas.
A banda que as acompanha não deixa por menos e faz um trabalho digno de aplausos.

Um dos grandes trunfos do grupo para chamar atenção da mídia, além de todo o visual retrô que as três jovens abraçam, foi fazer algumas versões de canções contemporâneas com os arranjos baseados no jazz, be bop e boogie-woggie que as cantoras estão acostumadas a cantar.
Dessas versões, sobressaem-se I Will Survive, clásico dos anos setenta e Panic, dos Smiths.

Mas o ouro está no repertório clássico escolhido pelas cantoras.
O carro-chefe do disco é Mr. Sandman, um dos standarts da música americana dos anos cinquenta, intepretada aqui de forma impecável.
A música de abertura do disco não poderia ser mais apropriada. Sisters, de 1954 ficou famosa por ser tema de um filme chamado White Christmas. A música é saborosíssima.
Outra música encantadora é a Java Jive, que além de tudo tem uma história interessante, já que é praticamente uma dessas canções de domínio público que data do fim do século dezenove, mas foi re-estruturada e gravada como conhecemos na década de 40 por Milton Drake e Ben Oakland.

Eu poderia falar de todas as canções do disco aqui, mas deixo para que vocês descubram por si todas as cores deste disco maravilhoso.

Já que falamos tanto de cinema aqui, não posso deixar de falar também que neste disco também está a excelente Tu Vuo' Fa L'Americano, standart da música pop italiana dos anos 50 de Renato Carosone. A versão das Puppini é ainda mais jazzista que a versão original, mas encantadora pelo arranjo de vozes.
O que tem a ver com cinema?
É que uma das melhores cenas do filme O Talentoso Ripley é quando essa música é tocada.

Sem contar que Mr. Sandman é a música que está tocando quando Marty McFly chega a 1955.

Concluindo.

Ouça esse disco.
Aproveite esta viagem ao passado sem preocupações.
Aqui você não vai precisar de 1,21 gigawats para voltar.


Este disco é para quem gosta de: Pin-ups, visual retrô, musicais da Brodway, Louis Prima, whisky e charuto, carros antigos, rockabilly, Nat King Cole, roupa de brechó, posar de blasé, Richard Cheese.

Aperta o play, Macaco! -
Super Homem - Wonkavision

3 comentários:

el escama disse...

Amo as Puppini. Tu tem q vir aqui conhecer as Clusters Sisters!

Anônimo disse...

Sem palavras!

CoisasDePrata disse...

As vezes penso que quanto mais a técnica moderna é aprimorada, menos idéias temos para compor um novo universo musical. Bom! é apenas uma desconfiança. Belas músicas e ótimo filme!