quarta-feira, 25 de julho de 2012

Contando histórias


Todo mundo conhece um contador de histórias.
É aquele cara que está numa conversa com você e outras pessoas e, em determinado assunto, ele sempre tem uma história para contar, seja uma situação parecida com a que está sendo dita na conversa, ou sobre o lugar, ou sobre um tipo de pessoa...
O problema é que, na maioria dos casos, esse cara é um chato de galochas!

Pessoas apaixonadas pelo cinema como eu, acabam lidando com quem faz filmes (atores, diretores...) de maneira bizarra, como se fossem amigos ou parentes. Quando fazem algo ruim, queremos satisfação! Muitas vezes até xingamos, mas é com a maior das boas intenções. Quando eu critico a qualidade dos últimos trabalhos do Tim Burton, é porque sei que ele já fez tanta coisa boa, que tenho vontade de chamar ele pra conversar, saber o que está acontecebdo...

Enfim, uma maluquice!

Voltando ao contador de histórias.
Se considerarmos que atores e dretores de cinema são nossos amigos e que todo mundo conhece um contador de histórias, certamente o grande contador de histórias no cinema hoje é Woody Allen.

Desde sempre, o que Woody Allen fez de melhor foi contar ótimas histórias ao longo de sua extensa filmografia. E é impressionante como ele o faz de maneira simples, direta e extremamente agradável.
Ele não tem a densidade de um Coppola, o ritmo de um Scorsese, a poesia de um Paul Thomas Anderson...simplesmente porque não precisa de nada disso.

Foi com este espírito que me deliciei na sala de cinema assistindo To Rome With Love (Para Roma Com Amor) último longa de Woody Allen.

Depois de exaltar de todas as maneiras possíveis e imagináveis a cidade de Nova York, Allen tem filmado seus últimos filmes na Europa, mas sempre citando de alguma maneira esta cidade pela qual ele é apaixonado.
Após uma delicada homenagem à Cidade-Luz em Meia Noite Em Paris, o diretor se volta para Roma como pano de fundo para um roteiro saboroso que conta quatro histórias em paralelo.

Com um elenco de peso, o filme ganha ainda mais brilho. Roberto Benigni, Alec Baldwin, Penélope Cruz e Ellen Page, em especial estão formidáveis, completamente á vontade em seus papéis. Benigni sempre engraçadíssimo, Baldwin com muito charme, Cruz super sedutora e Page encantadoramente fútil.

Mas a grande alegria para mim foi voltar a ver Woody Allen atuando! Super carismático e engraçado com seu jeito simples, inconformado e , muitas vezes, sarcástico. Só por revê-lo na tela o filme já vale a pena.

Mas vai muito além.

Woody Allen mantém o seu padrão de filmagem. Uma direção solta que deixa o filme fluir, uma fotografia encantadora, sem exageros e uma trilha sonora deliciada.
O roteiro, sempre um capítulo à parte, é bem amarrado e com muito ritmo. Aborda temas diversos, sempre baseados em relacionamentos.

A obsolescência programada da fama é retratada de forma cômica, a insegurança e inconstância da juventude aparece de forma delicada, a fidelidade e responsabilidades de um casal se mostram de forma muito clara e real.

Mas o que o filme realmente me passou foi uma questão de amor verdadeiro a vida, o zelo pelo aquilo que te faz bem e que te faz feliz.
O personagem de Allen é um produtor musical á beira da aposentadoria. Um personagem que, amando sempre o que fez, não quer abandonar seu ofício.
É Allen interpretando a si mesmo. Um homem que vê os anos avançando, mas que não se curva. Continua trabalhando, fazendo aquilo que acredita certo e belo.

Na verdade este filme é um filme feito pelo Woody Allen para o Woddy Allen e para todo o público que sempre o acompanhou, se emocionou, sorriu, se encantou e se identificou com suas inúmeras histórias.

É um filme Para Você Com Amor.

Portanto, vá assistir de peito aberto e divirta-se!

Passarinho, que som é esse?

Jar Of Flies - Alice In Chains

Lançado em 1994, Jar Of Flies é um EP com sete músicas que mostra uma face menos evidente da banda Alice In Chains, famosa por músicas mais agressivas como Man In The Box e depressivas como Down In A Hole.

Aqui aparece uma doçura dificilmente identificada nos discos que antecederam este EP (Facelify e Dirt) e que se mostraria mais presente no álbum seguinte (Alice In Chains).

Jerry Cantrell e Layne Staley estão afinadíssimos. As composições de ambos são impecáveis. Os arranjos de vocal dos dois são de dar inveja.
Na guitarra Cantrell mostra uma desenvoltura técnica e liberdade criativa brilhantes.
O caldo é engrossado pelo competentíssimo baterista Sean Kinney e o experiente baixista Mike Inez, que estréia na banda com este EP, tendo saído da banda de apoio de Ozzy Osbourne.

As sete músicas que formam o disquinho misturam metal, folk e rock n' roll de maneira saborosa. Sendo poucas canções, fica no final o gostinho de quero mais.

O disco abre com Rotten Apple, típica música dos Alice In Chains, de melodia densa, triste. A letra fala sobre o abuso de drogas de maneira aberta. O arranjo vocal é soberbo e o trabalho de guitarra e violão é sensacional.
Na mesma pegada segue-se Nutshell, mais introspectiva, arranjo mais minimalista com um belo solo de guitarra no final.
I Stay Away é uma das grandes surpresas do disco. Uma música mais animada, com acordes abertos, um belo arranjo de cordas ao fundo e um refrão pesado, com uma guitarra hipnótica com wah-wah. A letra dá indícios de um fim de relacionamento. E a guitarra de Cantrell mais uma vez se sobressai num solo rasgado.
No Excuses é minha favorita do EP. Também é uma música que surpreende. Começa com uma bateria quebrada e convidativa. A letra fala sobre amizade e drogas (pra variar).
Whale & Wasp é uma faixa instrumental contemplativa com uma bela e harmoniosa dobra de guitarras.
Don't Follow é uma lindíssima balada folk com direito a gaita e tudo.  Escrita e cantada por Jerry Cantrell, é o momento mais doce do disco, falando sobre desapego, estrada e seguir em frente.
Swing on This encerra o disco de forma agradável. Com um pé no blues e no metal. Um arranjo muito bom com uma linha de baixo marcante.

Disco ideal para curtir uma tarde de tédio ou momentos de introspecção.
Recomendadíssimo para amantes do bom rock n' roll.

Este disco é para quem gosta de:

Cabelo ensebado, camisa de flanela, drogas sintéticas, Soundgarden, lendas urbanas, ser anti-social, Black Sabbath, cerveja quente.

Aperta 0 play, Macaco! - Killing Moon - Echo and The Bunnymen

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Coisa de homem.


Todos os homens concordam que nada supera a complexidade feminina. Diz não querendo dizer sim, diz que está tudo bem quando na verdade ela está triste ou com raiva...e a lista segue longa.

Mas se analisarmos bem, na visão feminina, os homens podem ser também muito confusos e contraditórios. Mas nós, homens, temos uma lógica própria e, talvez, vejamos o mundo de outra maneira.

Como sempre, nada melhor que o cinema para nos mostrar essas diferenças. Ainda me lembro com carinho do enorme impacto que me causou o filme Sex And The City, me fazendo entender um pouquinho melhor o universo feminino.

Semana passada me senti do outro lado tendo ido ao cinema assistir E aí, Comeu? novo filme estrelado por Bruno Mazzeo com roteiro de Marcelo Rubens Paiva.




















O filme aborda o universo masculino da ótica mais óbvia: a mesa do bar.
Ali conta-se a história de três homens, cada um numa diferente situação amorosa, com empregos e dilemas distintos. E tudo se resolve entre um chopp e outro com intervenções do, sempre sábio, garçom.

Apesar de encharcado em clichês, o filme funciona bem. É divertido, com um ritmo permeado por altos e baixos, mas que não chega a cansar, uma fotografia, vez por outra, inspirada e boas atuações de Marcos Palmeira, Bruno Mazzeo, Juliana Schalch e Seu Jorge (que interpreta ele mesmo numa versão garçom).

O roteiro é o ponto forte. O texto de Marcelo Rubens Paiva é intenso e dá profundidade aos personagens (coisa rara nas comédias nacionais). Os diálogos são muito bons e as histórias de cada personagem são contadas de maneira divertida.

O diretor Felipe Joffily se sai bem mantendo o filme com o frescor que a comédia pede, mas deixa no ar alguns pontos para o espectador pensar a respeito quando sai da sala de cinema.

Pessoalmente, eu saí questionando muito essa visão do homem, essa coisa da mesa de bar, falando de mulher...Acho engraçado isso porque é uma realidade que eu não vejo muito. Nem sempre eu me sento com os amigos no bar para falar de mulher, o que se passa no meu relacionamento e etc. Talvez isso seja coisa minha e dos meus amigos, que preferimos falar de cinema, música e fazer piada de nossas próprias vidas ao invés de falar sobre o quê cada um faz embaixo do lençol com a namorada.

Talvez ainda isso seja uma parada mais regional. O filme tem muito do carioca, o que, às vezes, me incomoda um pouco porque dificulta minha identificação com os personagens.

Mas acho que vale muito a pena assistir a este filme. Pelo entretenimento e pela análise deste ser tão esquisito que é o homem, que valoriza a amizade, que precisa do amor de uma mulher, que se diverte com besteiras, que se questiona, se põe a prova...e que se esforça tanto para entender e fazer a mulher que ama feliz.

A conclusão do filme eu achei genial (apesar do mega clichê). Prestem atenção na fala final do personagem do Marcos Palmeira.

E aí, Comeu? pode muito bem ser encarado como o Sex And The City versão masculina.
Assim como o filme da série americana, este longa nacional não chega perto de solucionar grandes mistérios. Mas tem seu valor por jogar luz num assunto tão pouco analisado de forma leve e divertida.


Recomendado!


Passarinho, que som é esse?


Eu Quero É Botar Meu Bloco Na Rua - Sérgio Sampaio

Sérgio Sampaio é desses nomes emblemáticos da MPB que é desconhecido, porém venerado, com uma carreira permeada de histórias interessantíssimas e músicas geniais.

Após participar da maluquice sonora de Raul Seixas, a Sociedade da Grã-Ordem Kavernista, o desconhecido Sérgio Sampaio lança em 1973 seu primeiro disco, Eu Quero É Botar Meu Bloco Na Rua, com produção asinada por Raul Seixas. O disco foi fracasso de vendas apesar de a faixa-título ter tido certa notoriedade. Mas a crítica foi só elogios e a história fez deste disco referência para gerações seguintes.

Sampaio era um compositor de mão cheia. Ia do pop/brega que reinava nos anos 70 no Brasil até o samba e rock/folk. Exímio violonista, também era um letrista genial e muito sensível.

Os arranjos do disco surpreendem pela simplicidade e criatividade. Linhas de baixo envolventes, violões e ocasionais guitarras na medida, eventuais naipes de metal e cordas dão um upgrade em algumas canções, tudo numa sonoridade mais crua, deixando transparecer a intensidade e urgência das canções.

Destaque para a deliciosa Filme de Terror, Cala Boca, Zebedeu, Odete e Leros e Boleros.
Mas todo o disco é incrível. Pobre Meu Pai e Eu Sou Aquele Que Disse são emocionantes, Labirintos Negros é perturbadora, Eu Quero É Botar Meu Bloco na Rua é épica!

Bah! Que baita disco!
Corre e vai ouvir agora!

Este disco é para quem gosta de:
Ser do contra, ouvir vinil, roupas velhas e confortáveis, Belchior, ler Kafka no ônibus, Raul Seixas, humor negro, cerveja ao entardecer.


Aperta o play, Macaco! - O Exibicionista - Os Squematozoid


quarta-feira, 4 de julho de 2012

Pedaços de mim


Antes de vir escrever, acabei lendo quase todo o arquivo deste blog, pois já faz um bom tempo que não venho escrever...

Achei muito bacana ver como a música e o cinema moldaram e vem moldando minha vida, meu caráter. Claro que percebo este reflexo não de forma explícita e direta. Mas é nas pequenas coisas.
Cada filme que eu assisto e me identifico, a cada disco que me emociona...essas obras se tornam parte de mim, da minha existência.

O que nos leva ao filme de hoje.

Tenho uma admiração gigantesca pelo Cameron Crowe. Acredito que ele seja um dos grandes nomes do cinema na atualidade, por ele não ter medo de se reinventar, ser sempre autoral e muito pessoal em suas obras.
Além disso tudo, tem uma história muito rica com a música pop e o rock n' roll, tendo sido jornalista de revistas especializadas em música por alguns anos (assista Quase Famosos).

Por isso, ninguém melhor que Crowe para levar às telas de cinema a história dos vinte anos da banda americana Pearl Jam.



Pearl Jam Twenty é um documentário escrito e dirigido por Cameron Crowe que conta toda a trajetória desta banda de Seattle que ajudou a revolucionar o rock no início dos anos 90.

Falando do filme em si primeiro.
É capaz de agradar a todos os públicos. Quem é fã-nático pelo Pearl Jam e quem nunca ouviu falar da banda. Quem curte música e quem não se interessa pelo assunto...todo mundo vai acabar gostando.

Isso porque a abordagem apaixonada de Crowe vai fundo em cada personagem, vai além da música e discute amizade, drogas, convivência, sociedade. Mescla imagens raras da banda com belas tomadas da cidade de Seattle, depoimentos, entrevistas para programas de TV...tudo numa montagem cuidadosa, com um ritmo instigante.

Mas é claro que muito dessa qualidade deve-se a trajetória em si e personalidade de cada integrante da banda.
Neste quesito, o admirador da banda leva vantagem ao assistir a obra.

Dificlmente encontraremos no mundo da música pop uma banda com tamanha integridade, amor pela música e respeito aos seus fãs.
Quem já conhecia as várias histórias do Pearl Jam e sua postura com relação à imprensa ou sua briga com a Ticketmaster por ingressos mais baratos para seus shows, acaba entendendo melhor de onde vem tudo isso.

O documentário retrata a Seattle do fim dos anos oitenta, a ebulição de bandas geniais que foram o embrião do grunge que explodiu em 1991 com Nevermind do Nirvana e Ten do Pearl Jam.

O espectador acaba de assistir ao longa com um sentimento de gratidão e respeito pela banda. Dá vontade de sair correndo e ligar para os amigos e montar uma banda, só para se divertir fazendo música.

Na verdade, essa é a grande mágica do cinema. Fazer com que você chegue ao final do filme e se sinta pronto para viver sua vida com alegria, fazendo o que você ama, com as pessoas que você ama.

E Cameron Crowe cumpriu mais uma vez este papel com louvor!

Passarinho, que som é esse?

Alívio Imediato - Engenheiros do Hawaii

Já digo de cara que este disco é o melhor disco ao vivo já gravado no Brasil!
Mas vamos com calma. Situando:
O disco saiu em 1989. Foi o primeiro disco ao vivo dos Engenheiros do Hawaii que já tinham na bagagem Longe Demais das Capitais (1986), A Revolta dos Dândis (1987) e Ouça O Que Eu Digo, Não Ouça Ninguém (1988). Com este Alívio Imediato começa a tradição da banda em lançar um disco ao vivo a cada três de estúdio.

Com base nos três álbuns anteriores, Alívio Imediato ainda apresentou duas músicas inéditas gravadas em estúdio (outra tradição da banda).

Certamente este disco marca o auge dos Engenheiros do Hawaii como banda. O que se ouve aqui é uma banda entrosadíssima, tocando a bola sem olhar e marcando gol atrás de gol.

As duas músicas inéditas, Nau À Deriva e Alívio Imediato reforçam a estética progessiva com um pé no pop que a banda iniciou em A Revolta dos Dândis e refinou em Ouça O que Eu Digo, Não Ouça Ninguém.

Ao vivo, músicas como Toda Forma de Poder, A Revolta dos Dândis II e Tribos e Tribunais ganham peso e velocidade, show de rock n' roll! Terra de Gigantes se confirma como grande balada com um arranjo lindo de guitarra. O final surpreendente blues dá um sabor especial a Revolta dos Dândis I e Somos Quem Podemos Ser ganha um definitivo "sonhos que podemos ter e teremos" em sua letra.

Augusto Licks se mostra à vontade para fazer alguns teclados e esbanja feeling e técnica na guitarra, Carlos Maltz conduz a banda com uma bateria precisa e cavalar e Humberto Gessinger se apresenta um front man de primeira! Carismático, ele tem o público na mão durante todo o show, além de se mostrar cada vez mais competente no contra-baixo.

É um disco delicioso de se ouvir. Empolgante, contemplativo e alto astral.
É um verdadeiro manual de conduta para bandas que priorizam a boa música e o entretenimento sem se vender.


Mega recomendado!

Este disco é para quem gosta de:
Ser do contra, camisa de time de futebol, discutir a relação, Pink Floyd com Roger Waters, chá de menta, andar a pé, trocadilhos infames.


Aperta o play, Macaco! - From Hank To Hendrix - Neil Young