Faz sentido que o planeta Terra seja redondo e gire, complete ciclos, bem como toda a existência (não só a humanidade) passe por ciclos. O calor de dentro que fez placas de terra se deslocarem, o frio que congelou boa parte do planeta, extinguiu alguns seres. Depois veio o calor de novo, derreteu o gelo que deu origem a novos mares e novas terras e novas vidas.
A humanidade também se vê, volta e meia, passando pelos mesmos lugares, o ciclo de novo. O mundo girando. O que era moda nos anos cinquenta voltaram nos anos oitenta. Os anos oitenta voltaram a ser moda nos anos dois mil. E por aí vai.
Da mesma maneira percebemos que a nossa vida, esse mundinho particular, também gira e, vira e mexe, estamos passando pelo mesmo lugar de outrora. É como voltar a ser criança.
Já ouvimos muitas vezes que quando o ser humano chega a uma idade muito avançada, volta a ser criança. Em geral, referem-se à idosos que, infelizmente, precisam de cuidados especiais como ser alimentados e, até mesmo, precisam usar fraldas.
Mas eu percebo essa volta à infância de uma maneira bem mais corriqueira e agradável. No caso de pessoas de idade, um dos exemplos diz respeito aos horários. Assim como crianças, os idosos raramente aguentam ficar acordados até tarde da noite. É muito comum que uma pessoa de idade acabe pegando no sono no sofá mesmo, assistindo à novela das oito (ou das nove, das dez...não sei mais). Assim como crianças em festas que se prolongam noite adentro e acabam dormindo em qualquer cantinho onde possam deitar.
Faz sentido que as coincidências e circunstâncias façam com que a gente volte a ser criança sem perceber. Seja em momentos de extrema alegria, seja vendo algo belo demais que nos encante sem explicação.
Faz sentido. Faz parte do ciclo.
Neste fim de semana fui ao cinema assistir The Campaign, Os Candidatos aqui no Brasil. Uma comédia muito esperada por juntar dois grandes comediantes da atualidade: Will Farrell e Zach Galifianakis.
Um filme que aborda a campanha política de dois candidatos ao Congresso norte-americano. Cam Brady (Will Farrell) é um político inescrupuloso e já acostumado com a vida pública que passa por maus bocados. Marty Huggins (Zach Galifianakis) é um pacato cidadão que acaba se candidatando e concorrendo ao cargo que Brady já considerava ganho.
Seguem-se então situações estapafúrdias e engraçadíssimas mostrando um mundo podre e ganancioso de grandes empresários e a influência da política na economia de estados e países.
O longa se sai muito bem em diversos aspectos.
A começar, obviamente, pela interpretação sempre divertidíssima de Farrell e Galifianakis. A química entre os dois funciona bem, cada um ao seu estilo único.
O roteiro escrito por dois iniciantes no cinema, Chris Henchy e Shawn Harwell, tem um ritmo ótimo! O filme tem quase duas horas e você não vê o tempo passar. Os diálogos são dinâmicos e com algumas ótimas piadas.
A direção é de Jay Roach, diretor já calejado na comédia, responsável pela franquia Entrando Numa Fria (onde já fez várias críticas a republicanos e democratas) e também diretor da franquia pastelão Austin Powers. Fica evidente que Roach dirige de forma aberta, sabendo que tem grandes atores em cena, os deixa à vontade para possíveis improvisos que certamente acrescentaram muito ao roteiro original.
A esta altura do campeonato, você já deve estar se perguntando o que as reflexões acima tem a ver com o filme em questão.
Faz sentido você perguntar isso.
É fato que o gênero comédia no cinema mudou bastante dos anos oitenta pra cá.
Quando eu era criança e amava filmes deste gênero, não tinha tanta escatologia como hoje, bem como não havia o nonsense tão presente, claro, todos elementos que vieram muito da televisão, de séries politicamente incorretas como Simpsons, Family Guy e Two and a Half Men que ganharam força em meados dos anos noventa pra cá.
O que aconteceu é que esse filme só fez sentido de verdade pra mim dois dias depois de eu ter saído da sala de cinema.
Assim como qualquer criança com um brinquedo novo, eu ignorei a minha fila de livros a serem lidos e comecei a ler Nas Entrelinhas do Horizonte, livro de Humberto Gessinger que ganhei do meu amor maior de presente de aniversário. Logo no começo, Gessinger divaga sobre deixar de ser criança (crescer, descobrir verdades) e voltar a ser criança (ver mágica e beleza nas coisas comuns).
Deu um click na minha cabeça!
Lendo, percebi então que estava tão relaxado e feliz por toda a circunstância do fim de semana (estar com quem eu mais amo, estar próximo do meu aniversário, receber o carinho dos amigos...) que adorei o filme, não por seu humor escatológico e nonsense, mas por seu final tipicamente "anos oitenta", um final Sessão da Tarde, sabe? Não vou entrar em detalhes para não estragar a surpresa, mas o final é delicioso. Faz com que você saia da sala de cinema sorrindo porque, além de ser engraçado, o filme te mostra que as coisas podem dar certo se tu acreditar nos teus princípios.
E aí, fez sentido?
Pra mim fez!
Volte a ser criança, perceba a mágica da arte, da música, da literatura e do cinema. Se permita sorrir e aproveitar os momentos legais e divertidos.
O mundo não para de girar e, às vezes, a curva é tão longa que parece uma reta e a gente nem sente a mudança.
Mas tudo muda.
Então, faz todo o sentido que você aproveite tudo agora!
Passarinho, que som é esse?
Use Your Illusion II - Guns n' Roses
E falando em voltar a ser criança, eis a banda que eu cresci ouvindo: Guns N' Roses.
Apesar de hoje em dia eu não aprovar muita coisa que a banda realizou, em especial sua postura frente à imprensa e fãs, é inegável sua qualidade musical em seus primeiros discos.
Lembro claramente da primeira vez que vi no Fantástico o clipe de Don't Cry com a cena incrível do carro rolando ribanceira abaixo e as poses de Slash e sua inseparável Les Paul (Ah, sim, o Fantástico costumava passar clipes recém-lançados antigamente).
Bom, vamos ao disco.
Use Your Illusion II, lançado em 1991, certamente é o disco mais emblemático da banda. Contém boa parte de seus grandes clássicos e apresenta os Guns N' Roses em seu auge como músicos, num entrosamento incrível, além de trazer uma faceta mais séria e introspectiva em algumas canções.
Possivelmente era pra ser um disco duplo, mas acabou sendo dois discos duplos em dois volumes. Enquanto Use Your Illusion I mostra a banda mais próxima de seu primeiro disco Appetite for Destruction, com um hard rock mais frenético e letras hedonistas sobre sexo e drogas, este Use Your Illusion II deu um grande passo à frente. Com elementos de country e blues, um piano cada vez mais presente e bem executado e letras mais diversificadas fizeram deste disco um verdadeiro clássico!
Os grandes destaques ficam com a belíssima Civil War, uma música de protesto envolvente, Yesterdays tem uma levada country deliciosa, a baladona Don't Cry, que já aparecera no Use Your Illusion I, volta com letra alterada e mesmo instrumental e continua linda, outra balada linda é So Fine com vocal do baixista Duff McKagan e também vale destacar a explosiva You Could Be Mine que caiu como uma luva na trilha sonora do Exterminador do Futuro II.
Mas as duas grandes canções deste disco são: Estranged e Get In The Ring.
Get In The Ring é um rock n' roll puro, fedendo a cigarro e cerveja. Uma música cheia de energia, transbordando diversão e revolta. Nunca uma música foi tão direta com relação às críticas de publicações especializadas em música.
Já Estranged é minha favorita, não só deste disco, mas de toda a obra dos G'n'R. Uma composição belíssima! Arranjos de guitarras e piano de tirar o fôlego e uma letra introspectiva muito bacana.
Trata-se, enfim, de um disco de rock n' roll completo. Divertido, bem executado e que não perde o frescor mesmo depois de vinte anos de seu lançamento. Um dos grandes álbuns dos anos noventa.
Discoteca básica!
Este disco é para quem gosta de:
Cabelos ensebados, cerveja quente, Lucky Strike, bandana na cabeça, Aerosmith, ser revoltadinho da estrela, guitarras Les Paul, brigar sem motivo no bar, Nashville Pussy, atirar cadeiras em jornalistas, destruir quartos de hotel e Van Halen.
Aperta o play, Macaco! - Pretty Vacant - Sex Pistols
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