sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

The Song Remains The Same


Todo mundo tem uma eterna fonte de inspiração, um porto seguro e uma válvula de escape.
Algo que te faz voar, sonhar, sorrir e perseverar.

Para mim, essa "coisa" certamente é a música. Em todos os seus aspectos. Em todo o seu esplendor.

Nesta fase, ao mesmo tempo, tão confusa, decisiva e empolgante que estou vivendo, a música se faz presente e me influencia.
O fato de eu ter voltado a tocar periodicamente com grandes amigos é uma verdadeira terapia. Onde eu esqueço meus problemas, minhas pretensões. Me conecto a um universo saboroso de energia e prazer que faz com que eu volte para o mundo real no dia seguinte revigorado e até um pouco mais confiante.
Não sei te explicar o porquê. Mas é assim que funciona.

Mas a música se faz presente e me influencia em muitos outros aspectos. Por isso, hoje, vou mudar um pouco o padrão deste blog.

Acabei recentemente de ler o livro Neil Young - A Autobiografia.
Neil Young, um dos músicos mais influentes do século XX, escreve este misterioso e envolvente livro como um solo de guitarra improvisado, como ele faz com maestria nos palcos do mundo.

Aqui somos apresentados a um Young sonhador, questionador e incansável. Com um tom confessional de conversa de boteco o músico canadense apresenta lembranças de sua carreira, seus amores, seus hobbies, suas desilusões, seus arrependimentos...sempre tendo a paixão pela música como combustível.

Não há uma cronologia. Cada capítulo fala de determinado tempo ou memória e também de seus projetos atuais. Assim, descobre-se um homem fiel às suas crenças, descobrindo aos poucos a velhice e se adaptando a um mundo cada vez mais volátil.

O livro me tocou muito porque Neil Young fala sobre não estar compondo mais, o quanto sente falta, mas aprendeu a não se preocupar com isso. O amor com que ele fala de sua esposa, seus filhos e amigos. E, principalmente, o fato de não deixar de acreditar nos seus sonhos.

A capa do livro fala muito de seu conteúdo. Um senhor pensativo, voltado para si, com um sonho hippie que não lhe sai da cabeça em momento algum.

É uma leitura obrigatória para quem ama a música. E recomendada a todos que sabem que a vida não é fácil, mas vale a pena ser vivida, passo a passo.

Sempre!

Mudando de mídia, há algumas semanas encontrei à venda o DVD de um dos filmes que fizeram com que eu me apaixonasse pelo cinema e me interessasse cada vez mais pela música que transcende a audição de um disco.

The Doors é um filme do consagrado diretor Oliver Stone lançado em 1991 contando a trajetória do poeta Jim Morrison e sua banda The Doors, ícones dos anos 60 e da contra-cultura nos Estados Unidos e no mundo.

É um filme impactante por vários motivos. A começar pela atuação impecável de Val Kilmer como o protagonista Jim Morrison. É daquelas atuações que beiram o espiritismo, tamanha a semelhança física e gestual de Kilmer e Morrison.
A direção de Oliver Stone também é digna de aplausos. A ambientação, ou melhor, a aura que permeia todo o filme transporta o espectador para a efervescente década de 60, as drogas, a música, a busca pela liberdade, os exageros...está tudo lá!
O roteiro é bem coeso e não deixa pontas soltas, com bons diálogos e abordando toda a história da banda e alguns flashbacks da infância controversa de Morrison.

Completam a obra uma fotografia cuidadosa, calcada na psicodelia e na nouvelle vague, e uma montagem dinâmica.

Este filme significa muito pra mim por marcar uma fase de descoberta. Quando eu comecei a ler sobre música e sobre autores que influenciaram a música indiretamente, ou seja, filósfos e romancistas.

Foi bom revê-lo após tantos anos e ainda sentir que ele mexe com a cabeça e com o coração.

Gosto de recomendar este filme para o pessoal do rock que é mais "descolado" e diz não gostar dos Doors, mas só ouviu Light My Fire e Roadhouse Blues.
Mas, falando sério, é um filme recomendado pra todo mundo! Uma história muito bacana e bem contada, com uma trilha sonora excelente.

Para concluir, acho muito reconfortante perceber que a música está em todos os lugares. Não é só um som, um amontoado de acordes e palavras. Ela está na literatura, no cinema, nas artes plásticas...

O grande cartunista Angeli disse uma vez que se sentia frustrado por querer tocar rock n' roll, mas não ter aptidão para tocar nenhum instrumento. Até que ele percebeu que podia fazer rock n' roll desenhando.
E sua obra está aí pra confirmar isso.

Não é à toa que a arte é sempre a primeira a ser censurada e marginalizada por pessoas conservadoras e autoritárias.

A arte é libertadora.
Perigosamente libertadora.

Passarinho, que som é esse?

Revolver - Walter Franco

Quando falamos em arte, transgressão e obras impactantes, acabamos por traçar o perfil de diversos discos. E certamente um deles é o Revolver, segundo disco do compositor paulista Walter Franco, lançado em 1975.

Walter Franco já havia causado alvoroço na MPB em 1973 com seu disco de estréia Ou não (conhecido como disco da mosca) onde apresenta uma música concretista e caótica, lembrado pela questionadora Me Deixe Mudo (regravada por Chico Buarque posteriormente) e Cabeça, que ele defendeu na última edição do Festival Internacional da Canção da TV Globo e saiu como o mais vaiado da noite.

Neste Revolver Franco dá um passo adiante e apresenta um disco impactante e sedutor por mesclar sua poesia concreta e música de vanguarda com muitos elementos do pop e rock. O resultado foi um disco com grandes melodias contrastando com canções curtas, quase intervenções sonoras e letras de arrepiar, ora pela simplicidade acolhedora, ora pela violência da palavra.

Walter Franco é um compositor sensível e extremamente talentoso. Faz de cada palavra um elemento da música, fazendo com que suas letras tenham o seu significado como poesia e também como música, como se fosse um instrumento musical.

Destaque para Cachorro Babucho, um dos exemplos de como usar a palavra a favor da música, Feito Gente é um hard rock desconstruído, Nothing é uma festiva canção que vai contra a sua letra e Mamãe D'Água é um mantra individualista delicioso!
A execução do disco é de tirar o chapéu! Os arranjos são cuidadosos e muito atraentes! Uma verdadeira enxurrada de referências emerge! Ouve-se durante todo o disco ecos de Tom Zé, Beatles, Pink Floyd, Tom Jobim...

Trata-se de um disco formidável que merece ser ouvido sem preconceitos. Apesar de não ser fácil de ser assimilado numa primeira audição, é um disco que te conquista aos poucos e, quando você se dá conta, já adora todas as faixas!

Deixei pro final para falar de uma música deste disco:
A faixa título encerra o álbum com maestria. Um emaranhado de palavras e expressões que vão fazendo todo o sentido e termina por fazer com que o ouvinte entenda porque o disco se chama Revolver. Não se trata da arma de fogo, mas sim de revolver, remexer, bagunçar seus pensamentos até que eles façam sentido.

Ou não!

Corre lá pra ouvir.

Este disco é para quem gosta de:
Falar como se estivesse sussurrando, roupas de brechó, livros empoeirados, Itamar Assunção, teorias da conspiração, ser contra qualquer coisa, Miles Davis, tomar conhaque, passear pelo campus da universidade, rock progressivo.

Aperta o play, Macaco! - Crown of Thorns - Mother Love Bone

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