sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

"Acha que só você sabe o que é sofrimento? Vou lhe dizer algo sobre pessoas como eu.
Pessoas como eu sentem-se perdidas, inferiores, feias...e dispensáveis.
Pessoas como eu têm maridos que transam com outras mais perfeitas do que eu.
Pessoas como eu têm filhos que as odeiam.
É como acordar toda manhã e falhar. Olho em volta e todos parecem ter sucesso, mas por alguma razão eu não consigo, não importa o quanto eu tente.
Por alguma razão nunca serei boa o bastante."

É com essa fala de Michelle Pfeiffer que eu sempre choro. Só de transcrevê-la aqui já me encheu os olhos d'água.
Ela interpreta uma advogada bem-sucedida e está respondendo a um doente mental quando este diz a ela que ela não sabe o que é tentar, tentar, tentar e não conseguir. Pessoas como ela não sabem que tipo de sofrimento é esse, porque nasceram perfeitas.

Não sei se já falei sobre esse filme aqui, mas não importa.


Minha vida tem estado uma bagunça e eu tenho tentado de verdade me acertar.
Ninguém disse que seria fácil.
Mas começo a me preocupar de verdade.

Pensando recentemente sobre toda a minha vida. Tudo que eu desisti, tudo que eu deixei para trás, tudo que não consegui cuidar...
E cá estou eu. Com 28 anos. Sem um emprego fixo, sem saber direito o que quero da vida...sem um objetivo...um caminho.
Precisando desesperadamente de um carinho qualquer. Sabendo que sempre me apaixono e deixo escapar a garota amada.

E me peguei pensando...todos os meus amigos, são mais descolados, bem apessoados...perfeitos de certa maneira. Normais.
E eu sou só um gordo que tenta ser estiloso. Vesgo, que enxerga mal...E eu escondo isso falando pelos cotovelos sobre filmes e música...fazendo piadas...
Guardando pra mim toda uma vida de desprezo, solidão, tristeza...
Por quê com quem eu falaria sobre essas coisas...mesmo que entendessem realmente, do que adiantaria?

Eu ando de ônibus de graça e vou ao cinema de graça porque enxergo mal.
Isso não me torna diferente...pior ou melhor.

É onde finalmente acabam minhas lamentações e entra o filme.

I Am Sam (Uma Lição de Amor aqui no Brasil) me veio como um soco no estômago na primeira vez que assisti. Acho que foi a primeira vez que chorei de verdade assistindo um filme. Chorei de soluçar.


Sean Penn está espetacular interpretando Sam, um homem com sérios problemas mentais, um retardamento, como se seu QI fosse de uma criança...enfim. O fato é que ele engravida uma garota que, ao dar a luz à criança, a abandona.
Sam tem que criá-la sozinho.
Quando a garota, Lucy, interpretada de forma comovente pela Dakota Fanning, chega aos sete anos, o conselho tutelar aparece e a leva para um orfanato, alegando que Sam não tem condições de criá-la.

Entra em ação Rita Harrison, Michelle Pfeiffer arrasando também, uma advogada estressada que acaba, por acaso, assumindo o caso de Sam.
E assim se passa a trama de Sam tentando recuperar a guarda de sua filha.

O filme é todo maravilhoso. Uma fotografia notável, montagem espetacular, roteiro cativante e encantador e muito bem dirigido.
Fora a trilha sonora que conta com canções dos Beatles interpretadas por diversos artistas como Eddie Vedder e Wallflowers.

O filme é mais que recomendado.

Voltando um pouco a o que eu falava acima, esse filme é muito forte para qualquer pessoa com qualquer tipo de deficiência ou não
Para percebermos que todos temos nossas fraquezas, nossos momentos de desespero...

Eu assisto esse filme pelo menos uma vez a cada dois ou três meses.
E sempre choro nas mesmas cenas (e são várias as cenas que me emocionam).
Não será um problema físico que me impedirá de ser feliz, não é?

Ou é?

E é besteira não compartilhar isso com pessoas que você ama e confia.
Acontece que eu não consigo fazer isso. Porque realmente não saberia o que dizer...é tanta coisa, que eu acabo desistindo e fazendo uma piada sobre qualquer coisa.

Por isso tenho esse blog.

Pra dividir isso tudo.

Por isso, obrigado por estar aqui lendo isso tudo.


Passarinho, que som é esse?



Pearl Jam - Binaural

Toda banda com uma carreria sólida e com uma discografia extensa passa por isso.
Tem sempre um disco que é excelente e pouco lembrado até mesmo pelos fãs.

É o caso de Binaural, de 2000.
O Pearl Jam vinha de dois anos de muita atividade. Lançaram Yield e já saíram em turnê. Por problemas de saúde, finalmente sai o baterista Jack Irons (nunca gostei dele no PJ). no lugar dele entra o ex-Soundgarden Matt Cameron. E a turnê segue rendendo ainda naquele ano o lançamento do disco ao vivo Live On Two Legs.
Em 1999, ainda em turnê divulgando seu último disco lançado, participaram do disco Sem Fronteiras, em benefício das vítimas da guerra de Kosovo, com as músicas Last Kiss (que virou hit instantâneo) e Soldier Of Love.

Mas vamos ao Binaural.
O disco tem todos os elementos necessários para um fã do Pearl Jam, bem como para um apreciador de música em geral. Boas composições, criatividade e sensibilidade nos arranjos, peso quando necessário em algumas faixas, doçura em outras e uma produção cuidadosa.

Parece que o disco foi feito para que você não pule uma música sequer e ouça naquela sequência específica.
Começa com a furiosa Breakerfall, emenda com a energética God's Dice e, em seguida, a dançante Evacuation. Parece que foram feitas realmente para serem ouvidas nessa sequência.

E assim segue o disco. Não dá pra terminar de ouvir a viajandona Of The Girl e não pensar na bateria do início da divertida Grievance.

A banda está entrosadíssima em todo o disco. Timbres de guitarra escolhidos a dedo, o baixo criativo de Jeff Ament e a bateria cavalar de Matt Cameron, sem falar no vocal marcante de Eddie Vedder, que também toca guitarra em algumas músicas.
Falando na banda, é interessante notar que algumas das letras são de Stone Gossard e de Jeff Ament, coisa que não acontecia muito no início da banda, quando as letras ficavam somente a cargo de Vedder.

Particularmente, eu preciso citar a música Light Years, talvez a melhor faixa do álbum. Uma balada explêndida! A melodia de McCready e Gossard é lindíssima e Eddie Vedder traz uma letra tocante em homenagem a uma amiga da banda que sempre fora produtora deles e que morrera em 1997. No fim do refrão ele diz "nós não passamos de pedras, mas sua luz nos fez estrelas".

Foda pra caralho!

É um discão!
Vai lá ouvir!

Este disco é para quem gosta de:
Ativismo ambiental, cabelo ensebado, Neil Young, jogar basquete, camisetas largas, Screaming Trees, dirigir sozinho na estrada com o som alto.
Aperta o play, Macaco! - O Mistério do Samba - Mundo Livre S/A

11 comentários:

el escama disse...

Eu nunca disse isso dessa maneira, mas te ver sofrer me faz bem, cara! Adoro q tu sofra pq adoro sofrer e só assim a gente cresce e fica forte: o sofrimento é a academia, a puxação de ferro da alma.

Quem não sofre tá morto. Eu quero q tu sofra pra caralho. E não precisa agradecer!

Neto Gargioni disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Mariana Machado Hirche disse...

Putz, Victor...tô bem fortona então! Ontem estava pensando nisso: é no caos que se fazem os homens de verdade. Neste momento estou chorando em uma lanhouse, me sentindo idiota. E, Paulo, a gente conversou sobre isso uma noite inteira! Não importa o caminho que a gente pretenda seguir, ele sempre se desvia em algum lugar. E a gente se pergunta: onde foi que eu me perdi?

el escama disse...

É isso ae mermo: qdo a gente tá perdido o q nos resta é achar alguma coisa. Não dá pra ficar parado pq o mundo gira. Eu já tentei muito ficar parado, vcs sabem bem!

Anônimo disse...

Sei nem o que dizer! Só o de sempre: que você tem escrito cada vez melhor e, agora, descubro porque: quando a gente lê, descobre que você só 'disse' aquilo que todo mundo pensa. É bom a gente saber que não estamos exagerando em pensar que a vida pode ser uma merda... Ops! Escrevi merda, mas tá valendo!
Abçs!

Alfie disse...

Eita Paulo... se valer alguma coisa, pelo menos EU tenho muito orgulho de ter vc como amigo. Achei do caralho essa semana de roteiros e videoclipe, de a gente trocar mais ideia e planejar dar vida pra isso (vamos filmar!). Apesar de mil diferencas, a gente tem visoes compativeis na arte e do mundo. Toda vez que faço um improviso musical, imagino uma história ou simplesmente discuto sobre uma série com você, cresço e me pergunto: "por que porra a gente nao produz mais juntos?"
anyway. td isso é elogio, mas nao eh bajulacao. As vezes a gente precisa dos outros pra lembrar que a gente é foda, mesmo não sendo perfeito. E lembre-se, eu tenho 32, perdi as garotas que amei e nao tenho rumo na vida.
sempre tem nego no mesmo barco. :D

Juliana Spadoto disse...

Não dê ouvidos ao Bart, não. Ele não é legal como você.
Educação católica à parte, acredito que todo mundo tem a sua cruz, mas por que a solidão nos incomoda tanto assim, isso nem Jesus explica.
E o Binaural... fodido. Ouço toda semana.

Patrícia disse...

Você é meu orgulho! Amo!

Carolina Ito disse...

Esse lance de querer ter sucesso e ser bem sucedido acaba se tornando um peso na vida. É claro que esse desejo é inerente ao ser humano, mas a auto-cobrança em excesso cria rugas e atrapalha o caminho para se chegar lá. Pelo menos eu acho.
Então, temos que trabalhar o nosso ego para evitar as frustrações e conviver com esse mundo perverso que nos obriga a ter sempre mais e mais sucesso! Algo tipicamente norte americano, diga-se de passagem.
Isso tudo foi meio autobiográfico...enfim.

Arte com Arte disse...

Não sei se posso escrever aqui...
Só escrevo quando dói, e sempre dói... sinto tua dor.
Sabes que é meu herói, tenho medo se um dia fui teu monstro, pois tenho muitos em mim.
Sorte que todos curtem música e cinema... cerveja...cerveja...e intensidades mil. É o preço do sentir... E eu pagaria o dobro.
Mesmo longe te sinto, e sinto muito...

Unknown disse...

Lembrei da gente conversando na Augusta... De como nos saímos bem com piadas... rs
Sei lá... Já não gosto mesmo é quando alguém me tira a solidão... Normalmente essa pessoa é que não aguenta o tranco do sentimento verdadeiro... Acho que os solitários qd se desprendem assustam... Mas eu to mesmo preferindo a solidão. Meu coração tá mais calmo... E o sofrimento a gente leva na sacola, olha pra ele de vez enquando e chora dentro do ônibus enquanto chove lá fora.
TE AMO
Saudade monstra... MESMO MESMO MESMO